Como interpretar o silêncio sobre a mobilidade elétrica no brasil?
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foto: divulgação
muitos se perguntam a razão do brasil estar tão silencioso para a mobilidade elétrica. naturalmente, o silêncio pode ter vários significados. por exemplo, pode ser uma estratégia para que a tecnologia seja desenvolvida no exterior e o brasil venha usufruí-la sem o ônus do pioneirismo.
pode ser também a visão de que o governo não acredita que esse tipo de tecnologia esteja madura e, neste caso, qualquer esforço seria desperdiço de tempo e dinheiro. daí a decisão não seria de abandono da ideia, mas sim de adiamento. há quem avente que possa ser falta de esclarecimento das lideranças políticas. essa é uma hipótese improvável, pois eles são bem informados e estão em perfeita sintonia com a evolução global dos veículos elétricos. prova disso é que já contamos com meia dúzia de projetos lei propondo a regulamentação do assunto no país.
pode ser então que o tema não seja de interesse nacional, pois o brasil deseja apostar todas as fichas no etanol e petróleo. afinal de contas, o país é detentor de grandes reservas no pré-sal e metas ambiciosas na produção de álcool combustível.
sobre essa hipótese, segundo publicação do jornal estado de são paulo de (24/06/2013), ?o etanol, feito de cana-de-açúcar e milho, representa hoje 82% do mercado mundial de biocombustíveis. dominado por eua e brasil, que têm quase 90% da produção total, a estrutura da produção do combustível se baseia em uma rede de relacionamentos bem urdida, com forte lobby das instituições que representam os usineiros para a aprovação de regras que beneficiem a indústria. esses relacionamentos se tornam cada vez mais importantes para essa indústria, à medida que o benefício ambiental do combustível está sendo colocado em xeque, em favor de outras opções, como o carro elétrico.?
um influente político de brasília, ele me explicou que por lá vence aquele ?puxar a corda? forte, mas de forma organizada e direcionada. isso quer dizer que para fazer os projetos vingarem, é preciso reunir e estruturar um conjunto de ações, conquistando aliados para puxarem na mesma direção.
o que se pode concluir até o momento é que a mobilidade elétrica, aparentemente, é de interesse de poucos e provavelmente de desinteresse de muitos. sendo assim, cabe perguntar: teriam a nissan, toyota, mitsubishi e ford (as únicas que tem carro elétrico e híbrido no brasil) forças capazes de vencer os interesses contráriosó essa é uma pergunta que só o tempo poderá revelar.
no entanto, qualquer que seja a premissa, uma conclusão parece clara: o brasil está brigando contra os seus próprios interesses. primeiro porque o país não produz e nem produzirá álcool combustível para abastecer a frota nacional. de acordo com a união da indústria de cana-de-açúcar, em 2012 o brasil importou 1,4 milhão de litros de etanol.
também, parece cristalino que tão cedo não seremos suficientes na produção de combustível derivado do petróleo, pois não há e nem haverá nos próximos 20 anos refinaria capaz de suprir a demanda nacional. portanto, continuaremos por muitos anos (ou décadas) importando gasolina.
enquanto isso, o país deixa de receber investimentos tecnológicos na mobilidade elétrica, deixa de gerar empregos e se afasta de um tipo de tecnologia que avança em várias partes do mundo e que não se deve prescindir.
o brasil precisa voltar a ser ousado e investir em tecnologia e manufaturados, pois dificilmente conseguirá manter uma economia forte apenas vendendo commodities. e o momento é agora, pois assim nos adverte geraldo vandré: ?vem, vamos embora?que esperar não é saber,?quem sabe faz a hora?não espera acontecerá.
*escritor, conferencista e diretor do instituto das concessionárias do brasil
fonte: verdesobrerodas.com.br