Lenda ou não…
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coluna retrovisor: o chapeleiro misterioso
roberto brand?o
03/07/2007 - 16:38
bmw
o sedan misterioso: lenda ou verdade?
esta é mais uma das histórias de um lend?rio piloto e um not?rio brincalh?o. não posso garantir-lhe a veracidade, mas a lenda vale esta coluna.
num dos verões do in?cio da dácada de 80, corria a not?cia de que um senhor, portando garbosamente chapou e ?culos com armação de baquelita, daquelas antigas, estava causando furor junto aos propriet?rios de ferrari, lamborghini, maserati e porsche, dirigindo o seu bem comportado bmw sedan. ao contrário dos filmes, não aterrorizava, não matava nem amea?ava ninguém. agia quando um desses carros esporte de sonho lhe pedia ultrapassagem, deixando-o passar, para depois contra-atacar.
intrigado com a história, um reporter italiano convenceu sua redação de procurar por esse personagem. passado algum tempo, viajando pelas principais estradas do pa?s, convenceu-se de que se tratava de mais uma lenda, uma história criada para animar conversas, e pensou em desistir da empreitada.
foi quando encontrou-se com a história. um bmw sedan, cor de bronze, tópico de executivos e senhores bem-sucedidos, trafegava pela faixa da esquerda em velocidade de cruzeiro, atrapalhando a vida dos mais apressados. de longe, pode ver que o motorista usava um chapou, desses bem tradicionais, muito em moda nos anos 40 e 50.
ligou a c?mera instalada no painel de sua lamborghini alugada, respirou e acelerou fundo, indo é ca?a de seu personagem. ao aproximar-se do bmw, acionou o farol alto, piscando e pedindo passagem. para seu espanto, o bmw cedeu-lhe a vez, indo para a pista da direita, sem muita resist?ncia. frustrado e acreditando que aquela havia sido sua última tentativa, já pensava em voltar para sua mesa, quando viu, pelo retrovisor, o sedan piscando seus far?is e lhe pedindo a vez. pisou fundo no acelerador de sua m?quina, cujos 12 cilindros responderam prontamente, atingindo os 200 km/h.
no entanto, podia ver ainda grudado em sua traseira o intrápido senhor de chapou, dirigindo como se estivesse num passeio em volta do quarteir?o. acelerava mais, com o veloc?metro já apontando os 240 km/h, e o velho continuava lá, pedindo passagem e acelerando. suando frio, aflito com a velocidade, cutucava mais ainda o pedal da direita e… nada, não conseguia distanciar-se um mil?metro sequer do impassável velho de chapou. a aventura já se tornava perigosa, pois estavam próximos dos 280 km/h (de veloc?metro). aquilo tinha de acabar, mas seu perseguidor continuava como se estivesse passeando. exausto de tensão e concentração, cedeu a vez, foi para a pista da direita, deixando o velho passar, com um largo sorriso e lhe acenando com a mão.
reduzidos o ritmo card?aco e a adrenalina, resolveu seguir aquele senhor para descobrir o misterioso personagem, se preciso fosse, até a última gota de combustável. o incansável reporter obteve sua recompensa quando, após algum tempo, finalmente avistou, estacionado num posto de serviços, o tal bmw. o chapou, ?culos e cachecol estavam largados sobre o banco do passageiro.
entrou no restaurante, procurando por um senhor que lhe desse alguma indicação de ser o alvo de sua curiosidade. corria os olhos para todos os cantos do recinto, tentando adivinhar quem poderia ser e, de repente, notou um rosto conhecido, porém jovem. sentado numa mesa de canto, saboreando um caf?, estava o campeão mundial de f-1. aproximou-se do jovem, pensando que, caso não desvendasse o mist?rio, poderia conseguir uma entrevista exclusiva.
chegando mais perto, viu, no rosto do rapaz, o mesmo largo e debochado sorriso do velho de chapou. e, imediatamente, percebeu que encontrara seu personagem misterioso. nelson piquet explicou-lhe que o carro fora um presente da bmw, que produzira um sedan totalmente projetado por gordon murray utilizando os mais avan?ados recursos da f-1 e ele precisava utiliz?-lo da maneira mais divertida, que era humilhando os ricos propriet?rios de carros esportivos car?ssimos.
a lenda só foi divulgada muitos anos depois e confirmada por piquet em uma entrevista é tv cultura de são paulo. mas, novamente, sendo o brincalhão que sempre foi, não se sabe se é lenda ou verdade.
uma coisa é certa: nelson foi o último representante de um automobilismo moleque e divertido. passava-nos a impressão de que, mais do que uma profissão sória e competitiva, estava lá por diversão. sinto falta desses tempos.
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l? isso hoje cedo, achei bem a cara do piquet, e dado o relacionamento dele com o murray, e o próprio temperamento lazarento do piquet, não acho muito dificil que seja verdade.
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ja tinha escutado esta historia do meu pai mas não levei f?
ele tambem me contou do emerson tambem fazia umas dessas em são paulo com um opala original por fora mas preparado pela equipe de stock, inclusive depois de muitos anos lembro que ele foi me buscar no curso e falou essa era a garagem que o emerson tinha seus brinquedos e lembro que quando olhei para dentro tinham 3 opalas da stock lá.
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muito interessante. e deveras curioso.
mas uma coisa é fato, lenda ou não o piquet é foda
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l? isso hoje cedo, achei bem a cara do piquet, e dado o relacionamento dele com o murray, e o próprio temperamento lazarento do piquet, não acho muito dificil que seja verdade.
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sem mais.
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mais uma do piquet:
nos treinos para o gp da ?ustria de 1984, já no segundo dia, o piquet encosta no boxe e diz para o murray:
- tira a 1a., 2a. e a 3a. marchas.
o murray co?ou a cabeça e obedeceu. piquet voltou a pista e fez o tempo mais rápido marcando a pole. depois do treino, o murray não se aguentando chegou para o piquet e falou:
- tá bom, tá bom eu sei que tirando as marchas o carro fica mais leve, também sei que neste circuito elas são desnecessárias durante as voltas, mas o que eu não consigo entender e como você sabia que o carro iria sair de quarta?
no que retrucou o piquet:
- po cara, foi a primeira coisa que eu fiz hoje de manhã foi sair de quarta para saber se dava.
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mais uma do piquet:
nos treinos para o gp da ?ustria de 1984, já no segundo dia, o piquet encosta no boxe e diz para o murray:
_- tira a 1a., 2a. e a 3a. marchas. _
o murray co?ou a cabeça e obedeceu. piquet voltou a pista e fez o tempo mais rápido marcando a pole. depois do treino, o murray não se aguentando chegou para o piquet e falou:
_- tá bom, tá bom eu sei que tirando as marchas o carro fica mais leve, também sei que neste circuito elas são desnecessárias durante as voltas, mas o que eu não consigo entender e como você sabia que o carro iria sair de quarta? _
**no que retrucou o piquet:
- po cara, foi a primeira coisa que eu fiz hoje de manhã foi sair de quarta para saber se dava.**
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owned
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,jul 4 2007, 08:26 pm]li uma vez que havia, na região de betim/mg, um singelo uno mille com alma de uno turbo, de propriedade de um engenheiro da montadora.
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o que mais tem por aí é carro com aparencia de santo e alma de diabo.
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senna. who?
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_estava na minha sala no autódromo quando o celular tocou. era o chefe.
tudo bem aí?
tudo, chefe, o que manda?
seguinte, preciso ver algumas coisas aí. preciso dar uma olhada porque o belga (roland bruynseraede, o charlie whiting da época) vai chiar, vai ter que mexer no berger e no mergulho
você vem com o esquilo e vamos dar uma volta com a on?a
on?a era um opalão quatro cilindros, preto, quatro portas. um coitado. ele estava caindo de podre e graças ao querido amigo paulo taliba consegui pegar o carro para o autódromo num rolo inacreditável entre departamentos. e acredite se quiser: o chefe se divertia muito guiando a on?a. uma vez, duas ou tr?s semanas antes do gp do brasil de 1994, ele me ligou e disse: vou aí dar uma repassada nas obras, faz o shakedown do on?a .
o shakedown era colocar 42 libras nos pneus dianteiros e 39 nos traseiros (ali?s, as únicas coisas novas do carro, presente dos bons amigos da pirelli, quatro radiais 185 nos trinques), além de checar o arame da porta dianteira direita para ver se estava firme sem ataques de ferrugem.
ele ria muito e nos divert?amos, principalmente quando eu, para dar um tempero, imitava o locutor da tv e narrava as voltas contra um imagin?rio piloto de pequena estatura e nariz enorme, docemente apelidado de narizinho . e um grande urso ingl?s chamado roaaarrr , com suas luvas uma de cada cor, vermelha na mão direitae azul na mão esquerda. um canh?o, rapid?ssimo. daqueles tipos que você acabava até gostando. a gozação em cima de roaarr é que demorava um pouco para cair a ficha dele.
deixei a on?a pronta, mas aquele dia seria especial. ele chegou por volta das 17h20, com uma perua audi s2. x-tudo. turbo, cinco cilindros, jogada no ch?o, aquelas rodas absurdas. aquele barulho metálico ardido de motor bravo (as bmws também tám esse barulho característico de isca, pega).
sentei no lado direito, passei o cinto e já cutuquei: isso aqui anda ou é para ir é missa?
por quê?
nada, só estou perguntando
entramos pelo portão de cima mesmo e viramos é direita, rumo ao s com o nome dele. no comeão da descida, paramos. ele ficou olhando para a brita. não perdi a viagem: está lembrando do esparramo que o teu parceiro made in usa (andrettinho) fez na largada do gp desse ano, aqui?
isso acontece , desconversou.
na sa?da da segunda perna, ele contou: aqui foi a primeira vez que a luz de pressão de óleo acendeu no final do gp do brasil. eu vi de relance e fiquei imaginando se não tinha sido impressão. me preparei para olhar na outra volta e a tensão aumentou porque eu estava controlando o damon e o alemão que vinham atrás. eu estava muito ligado neles porque o damon usava aquele carro de outro planeta e o alemão tinha aqueles cavalinhos a mais que o meu motor, por estar usando uma série é frente . perguntei seco: não tem jeito de mexer neste contrato da benetton com a ford? . a resposta foi meio desanimadora: o ron está tentando, mas não vai ser fácil, o flavio (briatore) está marcando em cima .
foi a deixa para matar a curiosidade: além da distribuição pneum?tica, tem mais alguma coisa na usina, não tem? , perguntei. a confirmação veio, como sempre, discreta: ?, tem algumas coisinhas . emendei para não perder o mmento: quantos cavalinhos o motor do alemão tem a mais tem a mais que o teu?
ele, como sempre modesto, respondeu: um pouco .
cheguei junto, agora é a hora: um pouco quanto? uns 90 hpo . estava difácil tirar informação do homem. não, menos , falou. resolvi forçar mais um pouco, já perto do limite: 70? fala aí . ele manteve a guarda alta: não sei .
agora vou cutucar para tirar o cidadão do sório e arriscar o meu pesco?o: senhoras e senhores, estamos entrevistando um piloto de f1 que não sabe quantos cavalos tem o seu motor, é espantoso
foi o tempo de encolher o pescoão e levantar os ombros.
o que veio a seguir foi em tr?s idiomas: portugu?s, ingl?s e, sou capaz de jurar que alguma coisa em japon?s: piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii (censurado) ficou p piiiiiiiiii da vida.
senti que poderia ser o momento e mandei uma paralela: não apela, vou chutar 40 a 45 burritos a mais . sil?ncio, deu até para ouvir um pouquinho do cd do phill collins. armou um bico e completou com um muxoxo: hummm, por aí . [nota minha: essa eu quero dedicar aos schumaquistas teenagers que falam merda sobre o motor do senna em 93. calem suas bocas e vão aprender sobre f-1 idiots]
precisei dar uma descontra?da no ambiente: respeitável poblico, além de perder o lugar para o anão na williams, ainda guia corrida a corrida com 40 cavalitos a menos no motor
a seguir, momentos de uma leve baixaria e muita risada. quando estávamos no final da descida do lago, já apontado para a subida do laranjinha, o chefe veio com mais uma: essa sa?da do lago me preocupa, se der uma escapada em pondulo, com chicotada ao contrário, vai bater feio, precisava dar um jeito de mexer aqui . rebati: já pedi para os engenheiros da emurb darem uma olhada no que é que dá para fazer. aqui tem um complic?metro, chefia: a conflu?ncia dos lagos. a única sa?da de emerg?ncia é colocar o guard-rail mais próximo da pista para não deixar ganhar velocidade na hora que esparramar. o problema, chefe, é a hora que der uma pregada bem caprichada do lado esquerdo. a lámina vai devolver e o elemento vai cruzar a pista de volta para o lado direito. precisa ver se não pega ninguém, nenhum anu errante no contrapo da biaba . ele me deu uma olhada, armou uma risada de canto de boca, e conferiu: elemento, anu errante, contrapo da biaba?
devolvi bem curta: chefia, você entendeu, não estica .
quando chegamos ao cotovelo - ou bico de pato -, ele comentou: aqui acendeu de novo a luz da pressão e desta vez eu vi e envelheci. só me faltava esta, estava no final da prova. na ?frica do sul devia ter chovido 15 voltas antes, e aqui, essa? ainda bem que o motor, que já tinha dado umas amarradas nas voltas atrás do safety-car, aguentou, já estava uma barra e agora a fisa ainda me penalizando não sei até agora por que. fiquei um tempão atrás do erik (comas, que foi o rei do ventilador no gp, pois arrumou time penalty para todo mundo) e, quando ele tirou o po e me mandou passar, os caras me deram o ponalti .
subimos a junção e, no final do caf?, ele diminuiu. levou a x-tudo para o lado direito, deu uma provocada para o lado esquerdo e chamou o freio de mão. currupeio perfeito. viramos 180? e já estávamos voltando para o caf?, iniciando a descida para junção. pensei: acho que é agora, vou ati?ar.
respeitável poblico, no espet?culo de hoje teremos don becon e sua peruazinha , brinquei.
peruazinha foi a palavra m?gica. cutuquei a fera com vara curt?ssima.
você vai ver o que isso anda .
infernizei: ? bom mesmo, porque os caras da bmw estiveram aqui na semana passada e eu executei uma m3. achei que anda muito, por isso estou achando isso aqui meio lerdo . aí o homem pegou no breu: então vamos ver quanto vira nesta pista ao contrário, você tem idéia? , perguntou. pensei comigo… consegui incendiar a fera ...
completei jogando mais um pouco de gasolina: não sei, mas vou abrir o relógio e navegar: atenção, siviero para biasion, junção é direita, freada forte e quarta, po embaixo .
a partir deste momento foi só pintura. adrenalina pura, movimentos precisos, derrapagens controladas, controle absoluto, um conjunto de ordens e contra-ordens que a s4 obedecia docilmente, como que sabendo quem manda, quem é o dono. o carro não ia para onde queria, e sim para onde ele queria e colocava. o cheiro de borracha queimada já era forte dentro do habit?culo.
começando a subir o mergulho, mandei: pironnen para kankkunen, direita de alta, quarta, po embaixo . quando ia avisar do bico de pato, o cotovelo tinha chegado. o problema é que sa?mos meio atravessados para o lado contrário da curva que era para a esquerda (n?s estávamos andando ao contrário). nos últimos metros antes de passar do ponto e com um improviso esporita, ele inventou um pondulo que, sinceramente, não sei onde ele foi buscar. absurdo, já todo torto, ele deu uma provocadinha e a barata entrou na dele, amea?ou voltar, eu só ouvi ele dizer: te peguei . a partir da? foi mais ou menos assim. na pequena balançada da direita para a esquerda, ele percebeu antes e pendurou nos alicates (abs). o barulho lá embaixo na frente era característico: cram...cram...cram = tradução: não vai travar .
quando a frente amea?ou entrar, ou melhor, quando a traseira amea?ou soltar, eu só ouvi um rrrrrrrrrrrrrrrriiiiiippp . freio de mão puxado, ni qui, travou o eixo lá atrás, foi-se a traseira. quando ela foi, assinou a senten?a de execução do carro. o torpedo como um todo começou a contornar, girando sobre um eixo imagin?rio bem no meio do carro, fazendo uma meia lua, até chegar perto da metade da entrada do bico de pato.
não sei se vocês estão percebendo a magia da manobra. até aí, ele só vinha trabalhando com forças atuantes, sistema de freio em sequências de derrapagens controladas. naquela sucessão de manobras, ele já vinha com a mão direita selecionando uma marcha adequada para a sa?da. a curva que era para ter passado, não passou. nés estávamos dentro dela, quase apontados para a sa?da, com a marcha ideal selecionada e a plataforma motriz em stand-by esperando a vez dela. chegou. lembro que bati os olhos no veloc?metro estávamos entre 95 e 105 km/h. aquele era o ponto. o po direito dele foi junto com o meu berro: d?-lhe g?s . naquele momento eu relembrei a ira dos deuses enfurecidos e a brutal potência da usina turbocomprimida da casa de ingolstadt. absurdo, absurdo, eu não conseguia definir se era castigo do c?u ou coice de mula: com as costas coladas no banco, via a s4 seguir uma trajet?ria muito bem definida a caminho do pinheirinho.
sem deixar cair a peteca, emendei: kivimavi para allen, terceira marcha cravado sem tirar o po .
mas sempre tem um mas. quando ele apontou puxando para a direita, o foguete empurrou um pouquinho é frente, amea?ando alargar a trajet?ria. junto com a tentativa de reação, ele imediatamente telegrafou o acelerador, fazendo a traseira escorregar e ficar mais ou menos a uns 15? apontada para o lado de dentro da curva. era tudo o que ele queria para chamar potência no acelerador. fizemos o pinheirinho e o s (antigo) em dois pondulos. quando chegamos perto da zebra saindo do s e a caminho do laranjinha (só relembrando que estamos andando ao contrário na pista), comentei: nossa o que é no chão esse torpedo o que fala essa usina e uma estupidez . ele completou você vai ver nas de alta . ao ouvir aquilo fiz uma reflex?o: senhor, vou testemunhar a verdade, vou conhecer de perto o toque divino de um dos eleitos .
o motor urrando, o turbo descarregando, a velocidade crescendo, o laranjinha, a subida do lago veloc?ssima com freada forte para a segunda perna na entrada da reta a caminho do berger.
todo o berger é direita (n?s estamos andando ao contrário). o pondulo veloz direita esquerda para subir o s dele. e mais, a encardida chegada da junção morro abaixo, quinta a pleno. não teria como descrever para vocês, não encontraria palavras. são sensações que você sente quando por exemplo entra num louvre e descobre nomes como leonardo da vinci, raffaello sanzio, michelangelo merisi, rembrandt harmensz. ou quando ouve antonio vivaldi, franz schubert, wolfgang amadeus mozart, ludwig von beethoven, johann sebastian bach ou mesmo uma rhapsody in blue , de gershwin.
quando você percebe que está com alguém que faz parte desta lista dos eleitos , como os citados acima, você se sente especial. você vive um pequeno momento especial, que você vai levar para o resto da sua vida sem esquecer um detalhe.
poesia ou não, sempre tive a impressão que deus manda uns caras aqui na terra para mostrar como ele faz as coisas. mas, edgard, não dá para contar? desculpe, não dá. eu não tenho como descrever reações, comportamentos, atitudes, antecipações, acima de 200 km/h. você simplesmente fica olhando sem querer perder nada. é isso.
não dá para contar, é uma coisa sua, como foi de gagarin, carpenter, armstrong e buz aldrin. como você quer ver tudo e não perder nada, alguma coisa você registra. o resto, você absorve. acho que demos umas oito voltas, depois da terceira virou rotina, conversamos, demos risada, eu xinguei a fisa (para variar)...o cheiro de borracha queimada não parou, nem diminuiu, nés é que acostumamos com ele. lá pela sexta volta perguntei sobre donington a resposta você já sabe. a peruazinha s2, um dem?nio, serve até para ir é feira, mas não leva desaforo para casa. aquele motor não tem cavalos, tem bufalos enlouquecidos que, quando provocados, fazem desabar uma tormenta.
perto do portão de sa?da, falei: me deixa aqui, vou andando até a minha sala. falou, até mais, chefia . preocupado, me pediu: qualquer coisa, me liga. se chegar algum pedido da fisa, me passa por fax .
para não perder o costume, provoquei na sa?da: fica frio. da próxima vez, vem com um a8, tá bom? .
ele deu uma gargalhada e se perdeu no transito da teot?nio vilela.
fico imaginando que, para quem pudesse andar com jim clark, ronnie peterson, gilles villeneuve, jackie stewart, nelson piquet e michael schumacher, a sensação deveria ser a mesma. só sei que, lá pelas tantas em casa, já na madrugada, olhei para o relógio e vi que o cron?metro ainda estava funcionando. eu tinha esquecido de parar aquela volta que fiquei de marcar. naquele momento, 1h30 da manhã, descobri que oito horas atrás eu tinha vivido uma aventura que ficaria na minha lembran?a para o resto dos meus dias. simplesmente ela se juntava a outras como o meu primeiro dkw de corrida, a minha primeira vit?ria com o opala, a vit?ria nos 1000 km de brasília, a vit?ria nas 12 de goi?nia, a vit?ria no trof?u josó carlos pace em brasília, meu primeiro campeonato brasileiro de d3, o segundo, meu primeiro vão num pa18, (todo mundo chamava de teco-teco). lembran?as, memorys, coisas que você não esquece mais.
não sei se isso ajudou, mas por essa e outras experiencias eu não tive nenhuma dúvida em ir para a frente das c?meras da tv manchete naquele maio maldito e ficar berrando, durante oito ou nove horas, que podiam esconder todas as fitas que quisessem, mas ele não tinha errado [nota2: eu assisti e realmente ele berrava e xingava como nunca tinha visto numa tv antes…isso durante todo o domingo..]. alguma coisa tinha quebrado ou acontecido. está bem, não discuto, tinha chegado a hora dele, ninguém foge dos des?gnios de deus. mas ele foi de po, como um grande campe?o. reduziu tr?s marchas e freou. quer mais consci?ncia do que isso de uma situação de emerg?ncia?
os números podem falar o que for, pouco me importa. eu sou feito de emoção. nasci, vivi e vou morrer assim. a vida sem adrenalina simplesmente não tem gra?a. jamais vou separar a emoção do coração. por isso, onde você estiver - acelera, ayrton. acelera, campe?o
edgard de mello filho_
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_estava na minha sala no autódromo quando o celular tocou. era o chefe.
tudo bem aí?
tudo, chefe, o que manda?
seguinte, preciso ver algumas coisas aí. preciso dar uma olhada porque o belga (roland bruynseraede, o charlie whiting da época) vai chiar, vai ter que mexer no berger e no mergulho
você vem com o esquilo e vamos dar uma volta com a on?a
on?a era um opalão quatro cilindros, preto, quatro portas. um coitado. ele estava caindo de podre e graças ao querido amigo paulo taliba consegui pegar o carro para o autódromo num rolo inacreditável entre departamentos. e acredite se quiser: o chefe se divertia muito guiando a on?a. uma vez, duas ou tr?s semanas antes do gp do brasil de 1994, ele me ligou e disse: vou aí dar uma repassada nas obras, faz o shakedown do on?a .
o shakedown era colocar 42 libras nos pneus dianteiros e 39 nos traseiros (ali?s, as únicas coisas novas do carro, presente dos bons amigos da pirelli, quatro radiais 185 nos trinques), além de checar o arame da porta dianteira direita para ver se estava firme sem ataques de ferrugem.
ele ria muito e nos divert?amos, principalmente quando eu, para dar um tempero, imitava o locutor da tv e narrava as voltas contra um imagin?rio piloto de pequena estatura e nariz enorme, docemente apelidado de narizinho . e um grande urso ingl?s chamado roaaarrr , com suas luvas uma de cada cor, vermelha na mão direitae azul na mão esquerda. um canh?o, rapid?ssimo. daqueles tipos que você acabava até gostando. a gozação em cima de roaarr é que demorava um pouco para cair a ficha dele.
deixei a on?a pronta, mas aquele dia seria especial. ele chegou por volta das 17h20, com uma perua audi s2. x-tudo. turbo, cinco cilindros, jogada no ch?o, aquelas rodas absurdas. aquele barulho metálico ardido de motor bravo (as bmws também tám esse barulho característico de isca, pega).
sentei no lado direito, passei o cinto e já cutuquei: isso aqui anda ou é para ir é missa?
por quê?
nada, só estou perguntando
entramos pelo portão de cima mesmo e viramos é direita, rumo ao s com o nome dele. no comeão da descida, paramos. ele ficou olhando para a brita. não perdi a viagem: está lembrando do esparramo que o teu parceiro made in usa (andrettinho) fez na largada do gp desse ano, aqui?
isso acontece , desconversou.
na sa?da da segunda perna, ele contou: aqui foi a primeira vez que a luz de pressão de óleo acendeu no final do gp do brasil. eu vi de relance e fiquei imaginando se não tinha sido impressão. me preparei para olhar na outra volta e a tensão aumentou porque eu estava controlando o damon e o alemão que vinham atrás. eu estava muito ligado neles porque o damon usava aquele carro de outro planeta e o alemão tinha aqueles cavalinhos a mais que o meu motor, por estar usando uma série é frente . perguntei seco: não tem jeito de mexer neste contrato da benetton com a ford? . a resposta foi meio desanimadora: o ron está tentando, mas não vai ser fácil, o flavio (briatore) está marcando em cima .
foi a deixa para matar a curiosidade: além da distribuição pneum?tica, tem mais alguma coisa na usina, não tem? , perguntei. a confirmação veio, como sempre, discreta: ?, tem algumas coisinhas . emendei para não perder o mmento: quantos cavalinhos o motor do alemão tem a mais tem a mais que o teu?
ele, como sempre modesto, respondeu: um pouco .
cheguei junto, agora é a hora: um pouco quanto? uns 90 hpo . estava difácil tirar informação do homem. não, menos , falou. resolvi forçar mais um pouco, já perto do limite: 70? fala aí . ele manteve a guarda alta: não sei .
agora vou cutucar para tirar o cidadão do sório e arriscar o meu pesco?o: senhoras e senhores, estamos entrevistando um piloto de f1 que não sabe quantos cavalos tem o seu motor, é espantoso
foi o tempo de encolher o pescoão e levantar os ombros.
o que veio a seguir foi em tr?s idiomas: portugu?s, ingl?s e, sou capaz de jurar que alguma coisa em japon?s: piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii (censurado) ficou p piiiiiiiiii da vida.
senti que poderia ser o momento e mandei uma paralela: não apela, vou chutar 40 a 45 burritos a mais . sil?ncio, deu até para ouvir um pouquinho do cd do phill collins. armou um bico e completou com um muxoxo: hummm, por aí . [nota minha: essa eu quero dedicar aos schumaquistas teenagers que falam merda sobre o motor do senna em 93. calem suas bocas e vão aprender sobre f-1 idiots]
precisei dar uma descontra?da no ambiente: respeitável poblico, além de perder o lugar para o anão na williams, ainda guia corrida a corrida com 40 cavalitos a menos no motor
a seguir, momentos de uma leve baixaria e muita risada. quando estávamos no final da descida do lago, já apontado para a subida do laranjinha, o chefe veio com mais uma: essa sa?da do lago me preocupa, se der uma escapada em pondulo, com chicotada ao contrário, vai bater feio, precisava dar um jeito de mexer aqui . rebati: já pedi para os engenheiros da emurb darem uma olhada no que é que dá para fazer. aqui tem um complic?metro, chefia: a conflu?ncia dos lagos. a única sa?da de emerg?ncia é colocar o guard-rail mais próximo da pista para não deixar ganhar velocidade na hora que esparramar. o problema, chefe, é a hora que der uma pregada bem caprichada do lado esquerdo. a lámina vai devolver e o elemento vai cruzar a pista de volta para o lado direito. precisa ver se não pega ninguém, nenhum anu errante no contrapo da biaba . ele me deu uma olhada, armou uma risada de canto de boca, e conferiu: elemento, anu errante, contrapo da biaba?
devolvi bem curta: chefia, você entendeu, não estica .
quando chegamos ao cotovelo - ou bico de pato -, ele comentou: aqui acendeu de novo a luz da pressão e desta vez eu vi e envelheci. só me faltava esta, estava no final da prova. na ?frica do sul devia ter chovido 15 voltas antes, e aqui, essa? ainda bem que o motor, que já tinha dado umas amarradas nas voltas atrás do safety-car, aguentou, já estava uma barra e agora a fisa ainda me penalizando não sei até agora por que. fiquei um tempão atrás do erik (comas, que foi o rei do ventilador no gp, pois arrumou time penalty para todo mundo) e, quando ele tirou o po e me mandou passar, os caras me deram o ponalti .
subimos a junção e, no final do caf?, ele diminuiu. levou a x-tudo para o lado direito, deu uma provocada para o lado esquerdo e chamou o freio de mão. currupeio perfeito. viramos 180? e já estávamos voltando para o caf?, iniciando a descida para junção. pensei: acho que é agora, vou ati?ar.
respeitável poblico, no espet?culo de hoje teremos don becon e sua peruazinha , brinquei.
peruazinha foi a palavra m?gica. cutuquei a fera com vara curt?ssima.
você vai ver o que isso anda .
infernizei: ? bom mesmo, porque os caras da bmw estiveram aqui na semana passada e eu executei uma m3. achei que anda muito, por isso estou achando isso aqui meio lerdo . aí o homem pegou no breu: então vamos ver quanto vira nesta pista ao contrário, você tem idéia? , perguntou. pensei comigo… consegui incendiar a fera ...
completei jogando mais um pouco de gasolina: não sei, mas vou abrir o relógio e navegar: atenção, siviero para biasion, junção é direita, freada forte e quarta, po embaixo .
a partir deste momento foi só pintura. adrenalina pura, movimentos precisos, derrapagens controladas, controle absoluto, um conjunto de ordens e contra-ordens que a s4 obedecia docilmente, como que sabendo quem manda, quem é o dono. o carro não ia para onde queria, e sim para onde ele queria e colocava. o cheiro de borracha queimada já era forte dentro do habit?culo.
começando a subir o mergulho, mandei: pironnen para kankkunen, direita de alta, quarta, po embaixo . quando ia avisar do bico de pato, o cotovelo tinha chegado. o problema é que sa?mos meio atravessados para o lado contrário da curva que era para a esquerda (n?s estávamos andando ao contrário). nos últimos metros antes de passar do ponto e com um improviso esporita, ele inventou um pondulo que, sinceramente, não sei onde ele foi buscar. absurdo, já todo torto, ele deu uma provocadinha e a barata entrou na dele, amea?ou voltar, eu só ouvi ele dizer: te peguei . a partir da? foi mais ou menos assim. na pequena balançada da direita para a esquerda, ele percebeu antes e pendurou nos alicates (abs). o barulho lá embaixo na frente era característico: cram...cram...cram = tradução: não vai travar .
quando a frente amea?ou entrar, ou melhor, quando a traseira amea?ou soltar, eu só ouvi um rrrrrrrrrrrrrrrriiiiiippp . freio de mão puxado, ni qui, travou o eixo lá atrás, foi-se a traseira. quando ela foi, assinou a senten?a de execução do carro. o torpedo como um todo começou a contornar, girando sobre um eixo imagin?rio bem no meio do carro, fazendo uma meia lua, até chegar perto da metade da entrada do bico de pato.
não sei se vocês estão percebendo a magia da manobra. até aí, ele só vinha trabalhando com forças atuantes, sistema de freio em sequências de derrapagens controladas. naquela sucessão de manobras, ele já vinha com a mão direita selecionando uma marcha adequada para a sa?da. a curva que era para ter passado, não passou. nés estávamos dentro dela, quase apontados para a sa?da, com a marcha ideal selecionada e a plataforma motriz em stand-by esperando a vez dela. chegou. lembro que bati os olhos no veloc?metro estávamos entre 95 e 105 km/h. aquele era o ponto. o po direito dele foi junto com o meu berro: d?-lhe g?s . naquele momento eu relembrei a ira dos deuses enfurecidos e a brutal potência da usina turbocomprimida da casa de ingolstadt. absurdo, absurdo, eu não conseguia definir se era castigo do c?u ou coice de mula: com as costas coladas no banco, via a s4 seguir uma trajet?ria muito bem definida a caminho do pinheirinho.
sem deixar cair a peteca, emendei: kivimavi para allen, terceira marcha cravado sem tirar o po .
mas sempre tem um mas. quando ele apontou puxando para a direita, o foguete empurrou um pouquinho é frente, amea?ando alargar a trajet?ria. junto com a tentativa de reação, ele imediatamente telegrafou o acelerador, fazendo a traseira escorregar e ficar mais ou menos a uns 15? apontada para o lado de dentro da curva. era tudo o que ele queria para chamar potência no acelerador. fizemos o pinheirinho e o s (antigo) em dois pondulos. quando chegamos perto da zebra saindo do s e a caminho do laranjinha (só relembrando que estamos andando ao contrário na pista), comentei: nossa o que é no chão esse torpedo o que fala essa usina e uma estupidez . ele completou você vai ver nas de alta . ao ouvir aquilo fiz uma reflex?o: senhor, vou testemunhar a verdade, vou conhecer de perto o toque divino de um dos eleitos .
o motor urrando, o turbo descarregando, a velocidade crescendo, o laranjinha, a subida do lago veloc?ssima com freada forte para a segunda perna na entrada da reta a caminho do berger.
todo o berger é direita (n?s estamos andando ao contrário). o pondulo veloz direita esquerda para subir o s dele. e mais, a encardida chegada da junção morro abaixo, quinta a pleno. não teria como descrever para vocês, não encontraria palavras. são sensações que você sente quando por exemplo entra num louvre e descobre nomes como leonardo da vinci, raffaello sanzio, michelangelo merisi, rembrandt harmensz. ou quando ouve antonio vivaldi, franz schubert, wolfgang amadeus mozart, ludwig von beethoven, johann sebastian bach ou mesmo uma rhapsody in blue , de gershwin.
quando você percebe que está com alguém que faz parte desta lista dos eleitos , como os citados acima, você se sente especial. você vive um pequeno momento especial, que você vai levar para o resto da sua vida sem esquecer um detalhe.
poesia ou não, sempre tive a impressão que deus manda uns caras aqui na terra para mostrar como ele faz as coisas. mas, edgard, não dá para contar? desculpe, não dá. eu não tenho como descrever reações, comportamentos, atitudes, antecipações, acima de 200 km/h. você simplesmente fica olhando sem querer perder nada. é isso.
não dá para contar, é uma coisa sua, como foi de gagarin, carpenter, armstrong e buz aldrin. como você quer ver tudo e não perder nada, alguma coisa você registra. o resto, você absorve. acho que demos umas oito voltas, depois da terceira virou rotina, conversamos, demos risada, eu xinguei a fisa (para variar)...o cheiro de borracha queimada não parou, nem diminuiu, nés é que acostumamos com ele. lá pela sexta volta perguntei sobre donington a resposta você já sabe. a peruazinha s2, um dem?nio, serve até para ir é feira, mas não leva desaforo para casa. aquele motor não tem cavalos, tem bufalos enlouquecidos que, quando provocados, fazem desabar uma tormenta.
perto do portão de sa?da, falei: me deixa aqui, vou andando até a minha sala. falou, até mais, chefia . preocupado, me pediu: qualquer coisa, me liga. se chegar algum pedido da fisa, me passa por fax .
para não perder o costume, provoquei na sa?da: fica frio. da próxima vez, vem com um a8, tá bom? .
ele deu uma gargalhada e se perdeu no transito da teot?nio vilela.
fico imaginando que, para quem pudesse andar com jim clark, ronnie peterson, gilles villeneuve, jackie stewart, nelson piquet e michael schumacher, a sensação deveria ser a mesma. só sei que, lá pelas tantas em casa, já na madrugada, olhei para o relógio e vi que o cron?metro ainda estava funcionando. eu tinha esquecido de parar aquela volta que fiquei de marcar. naquele momento, 1h30 da manhã, descobri que oito horas atrás eu tinha vivido uma aventura que ficaria na minha lembran?a para o resto dos meus dias. simplesmente ela se juntava a outras como o meu primeiro dkw de corrida, a minha primeira vit?ria com o opala, a vit?ria nos 1000 km de brasília, a vit?ria nas 12 de goi?nia, a vit?ria no trof?u josó carlos pace em brasília, meu primeiro campeonato brasileiro de d3, o segundo, meu primeiro vão num pa18, (todo mundo chamava de teco-teco). lembran?as, memorys, coisas que você não esquece mais.
não sei se isso ajudou, mas por essa e outras experiencias eu não tive nenhuma dúvida em ir para a frente das c?meras da tv manchete naquele maio maldito e ficar berrando, durante oito ou nove horas, que podiam esconder todas as fitas que quisessem, mas ele não tinha errado [nota2: eu assisti e realmente ele berrava e xingava como nunca tinha visto numa tv antes…isso durante todo o domingo..]. alguma coisa tinha quebrado ou acontecido. está bem, não discuto, tinha chegado a hora dele, ninguém foge dos des?gnios de deus. mas ele foi de po, como um grande campe?o. reduziu tr?s marchas e freou. quer mais consci?ncia do que isso de uma situação de emerg?ncia?
os números podem falar o que for, pouco me importa. eu sou feito de emoção. nasci, vivi e vou morrer assim. a vida sem adrenalina simplesmente não tem gra?a. jamais vou separar a emoção do coração. por isso, onde você estiver - acelera, ayrton. acelera, campe?o
edgard de mello filho_
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sem mais.
-
_estava na minha sala no autódromo quando o celular tocou. era o chefe.
tudo bem aí?
tudo, chefe, o que manda?
seguinte, preciso ver algumas coisas aí. preciso dar uma olhada porque o belga (roland bruynseraede, o charlie whiting da época) vai chiar, vai ter que mexer no berger e no mergulho
você vem com o esquilo e vamos dar uma volta com a on?a
on?a era um opalão quatro cilindros, preto, quatro portas. um coitado. ele estava caindo de podre e graças ao querido amigo paulo taliba consegui pegar o carro para o autódromo num rolo inacreditável entre departamentos. e acredite se quiser: o chefe se divertia muito guiando a on?a. uma vez, duas ou tr?s semanas antes do gp do brasil de 1994, ele me ligou e disse: vou aí dar uma repassada nas obras, faz o shakedown do on?a .
o shakedown era colocar 42 libras nos pneus dianteiros e 39 nos traseiros (ali?s, as únicas coisas novas do carro, presente dos bons amigos da pirelli, quatro radiais 185 nos trinques), além de checar o arame da porta dianteira direita para ver se estava firme sem ataques de ferrugem.
ele ria muito e nos divert?amos, principalmente quando eu, para dar um tempero, imitava o locutor da tv e narrava as voltas contra um imagin?rio piloto de pequena estatura e nariz enorme, docemente apelidado de narizinho . e um grande urso ingl?s chamado roaaarrr , com suas luvas uma de cada cor, vermelha na mão direitae azul na mão esquerda. um canh?o, rapid?ssimo. daqueles tipos que você acabava até gostando. a gozação em cima de roaarr é que demorava um pouco para cair a ficha dele.
deixei a on?a pronta, mas aquele dia seria especial. ele chegou por volta das 17h20, com uma perua audi s2. x-tudo. turbo, cinco cilindros, jogada no ch?o, aquelas rodas absurdas. aquele barulho metálico ardido de motor bravo (as bmws também tám esse barulho característico de isca, pega).
sentei no lado direito, passei o cinto e já cutuquei: isso aqui anda ou é para ir é missa?
por quê?
nada, só estou perguntando
entramos pelo portão de cima mesmo e viramos é direita, rumo ao s com o nome dele. no comeão da descida, paramos. ele ficou olhando para a brita. não perdi a viagem: está lembrando do esparramo que o teu parceiro made in usa (andrettinho) fez na largada do gp desse ano, aqui?
isso acontece , desconversou.
na sa?da da segunda perna, ele contou: aqui foi a primeira vez que a luz de pressão de óleo acendeu no final do gp do brasil. eu vi de relance e fiquei imaginando se não tinha sido impressão. me preparei para olhar na outra volta e a tensão aumentou porque eu estava controlando o damon e o alemão que vinham atrás. eu estava muito ligado neles porque o damon usava aquele carro de outro planeta e o alemão tinha aqueles cavalinhos a mais que o meu motor, por estar usando uma série é frente . perguntei seco: não tem jeito de mexer neste contrato da benetton com a ford? . a resposta foi meio desanimadora: o ron está tentando, mas não vai ser fácil, o flavio (briatore) está marcando em cima .
foi a deixa para matar a curiosidade: além da distribuição pneum?tica, tem mais alguma coisa na usina, não tem? , perguntei. a confirmação veio, como sempre, discreta: ?, tem algumas coisinhas . emendei para não perder o mmento: quantos cavalinhos o motor do alemão tem a mais tem a mais que o teu?
ele, como sempre modesto, respondeu: um pouco .
cheguei junto, agora é a hora: um pouco quanto? uns 90 hpo . estava difácil tirar informação do homem. não, menos , falou. resolvi forçar mais um pouco, já perto do limite: 70? fala aí . ele manteve a guarda alta: não sei .
agora vou cutucar para tirar o cidadão do sório e arriscar o meu pesco?o: senhoras e senhores, estamos entrevistando um piloto de f1 que não sabe quantos cavalos tem o seu motor, é espantoso
foi o tempo de encolher o pescoão e levantar os ombros.
o que veio a seguir foi em tr?s idiomas: portugu?s, ingl?s e, sou capaz de jurar que alguma coisa em japon?s: piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii (censurado) ficou p piiiiiiiiii da vida.
senti que poderia ser o momento e mandei uma paralela: não apela, vou chutar 40 a 45 burritos a mais . sil?ncio, deu até para ouvir um pouquinho do cd do phill collins. armou um bico e completou com um muxoxo: hummm, por aí . [nota minha: essa eu quero dedicar aos schumaquistas teenagers que falam merda sobre o motor do senna em 93. calem suas bocas e vão aprender sobre f-1 idiots]
precisei dar uma descontra?da no ambiente: respeitável poblico, além de perder o lugar para o anão na williams, ainda guia corrida a corrida com 40 cavalitos a menos no motor
a seguir, momentos de uma leve baixaria e muita risada. quando estávamos no final da descida do lago, já apontado para a subida do laranjinha, o chefe veio com mais uma: essa sa?da do lago me preocupa, se der uma escapada em pondulo, com chicotada ao contrário, vai bater feio, precisava dar um jeito de mexer aqui . rebati: já pedi para os engenheiros da emurb darem uma olhada no que é que dá para fazer. aqui tem um complic?metro, chefia: a conflu?ncia dos lagos. a única sa?da de emerg?ncia é colocar o guard-rail mais próximo da pista para não deixar ganhar velocidade na hora que esparramar. o problema, chefe, é a hora que der uma pregada bem caprichada do lado esquerdo. a lámina vai devolver e o elemento vai cruzar a pista de volta para o lado direito. precisa ver se não pega ninguém, nenhum anu errante no contrapo da biaba . ele me deu uma olhada, armou uma risada de canto de boca, e conferiu: elemento, anu errante, contrapo da biaba?
devolvi bem curta: chefia, você entendeu, não estica .
quando chegamos ao cotovelo - ou bico de pato -, ele comentou: aqui acendeu de novo a luz da pressão e desta vez eu vi e envelheci. só me faltava esta, estava no final da prova. na ?frica do sul devia ter chovido 15 voltas antes, e aqui, essa? ainda bem que o motor, que já tinha dado umas amarradas nas voltas atrás do safety-car, aguentou, já estava uma barra e agora a fisa ainda me penalizando não sei até agora por que. fiquei um tempão atrás do erik (comas, que foi o rei do ventilador no gp, pois arrumou time penalty para todo mundo) e, quando ele tirou o po e me mandou passar, os caras me deram o ponalti .
subimos a junção e, no final do caf?, ele diminuiu. levou a x-tudo para o lado direito, deu uma provocada para o lado esquerdo e chamou o freio de mão. currupeio perfeito. viramos 180? e já estávamos voltando para o caf?, iniciando a descida para junção. pensei: acho que é agora, vou ati?ar.
respeitável poblico, no espet?culo de hoje teremos don becon e sua peruazinha , brinquei.
peruazinha foi a palavra m?gica. cutuquei a fera com vara curt?ssima.
você vai ver o que isso anda .
infernizei: ? bom mesmo, porque os caras da bmw estiveram aqui na semana passada e eu executei uma m3. achei que anda muito, por isso estou achando isso aqui meio lerdo . aí o homem pegou no breu: então vamos ver quanto vira nesta pista ao contrário, você tem idéia? , perguntou. pensei comigo… consegui incendiar a fera ...
completei jogando mais um pouco de gasolina: não sei, mas vou abrir o relógio e navegar: atenção, siviero para biasion, junção é direita, freada forte e quarta, po embaixo .
a partir deste momento foi só pintura. adrenalina pura, movimentos precisos, derrapagens controladas, controle absoluto, um conjunto de ordens e contra-ordens que a s4 obedecia docilmente, como que sabendo quem manda, quem é o dono. o carro não ia para onde queria, e sim para onde ele queria e colocava. o cheiro de borracha queimada já era forte dentro do habit?culo.
começando a subir o mergulho, mandei: pironnen para kankkunen, direita de alta, quarta, po embaixo . quando ia avisar do bico de pato, o cotovelo tinha chegado. o problema é que sa?mos meio atravessados para o lado contrário da curva que era para a esquerda (n?s estávamos andando ao contrário). nos últimos metros antes de passar do ponto e com um improviso esporita, ele inventou um pondulo que, sinceramente, não sei onde ele foi buscar. absurdo, já todo torto, ele deu uma provocadinha e a barata entrou na dele, amea?ou voltar, eu só ouvi ele dizer: te peguei . a partir da? foi mais ou menos assim. na pequena balançada da direita para a esquerda, ele percebeu antes e pendurou nos alicates (abs). o barulho lá embaixo na frente era característico: cram...cram...cram = tradução: não vai travar .
quando a frente amea?ou entrar, ou melhor, quando a traseira amea?ou soltar, eu só ouvi um rrrrrrrrrrrrrrrriiiiiippp . freio de mão puxado, ni qui, travou o eixo lá atrás, foi-se a traseira. quando ela foi, assinou a senten?a de execução do carro. o torpedo como um todo começou a contornar, girando sobre um eixo imagin?rio bem no meio do carro, fazendo uma meia lua, até chegar perto da metade da entrada do bico de pato.
não sei se vocês estão percebendo a magia da manobra. até aí, ele só vinha trabalhando com forças atuantes, sistema de freio em sequências de derrapagens controladas. naquela sucessão de manobras, ele já vinha com a mão direita selecionando uma marcha adequada para a sa?da. a curva que era para ter passado, não passou. nés estávamos dentro dela, quase apontados para a sa?da, com a marcha ideal selecionada e a plataforma motriz em stand-by esperando a vez dela. chegou. lembro que bati os olhos no veloc?metro estávamos entre 95 e 105 km/h. aquele era o ponto. o po direito dele foi junto com o meu berro: d?-lhe g?s . naquele momento eu relembrei a ira dos deuses enfurecidos e a brutal potência da usina turbocomprimida da casa de ingolstadt. absurdo, absurdo, eu não conseguia definir se era castigo do c?u ou coice de mula: com as costas coladas no banco, via a s4 seguir uma trajet?ria muito bem definida a caminho do pinheirinho.
sem deixar cair a peteca, emendei: kivimavi para allen, terceira marcha cravado sem tirar o po .
mas sempre tem um mas. quando ele apontou puxando para a direita, o foguete empurrou um pouquinho é frente, amea?ando alargar a trajet?ria. junto com a tentativa de reação, ele imediatamente telegrafou o acelerador, fazendo a traseira escorregar e ficar mais ou menos a uns 15? apontada para o lado de dentro da curva. era tudo o que ele queria para chamar potência no acelerador. fizemos o pinheirinho e o s (antigo) em dois pondulos. quando chegamos perto da zebra saindo do s e a caminho do laranjinha (só relembrando que estamos andando ao contrário na pista), comentei: nossa o que é no chão esse torpedo o que fala essa usina e uma estupidez . ele completou você vai ver nas de alta . ao ouvir aquilo fiz uma reflex?o: senhor, vou testemunhar a verdade, vou conhecer de perto o toque divino de um dos eleitos .
o motor urrando, o turbo descarregando, a velocidade crescendo, o laranjinha, a subida do lago veloc?ssima com freada forte para a segunda perna na entrada da reta a caminho do berger.
todo o berger é direita (n?s estamos andando ao contrário). o pondulo veloz direita esquerda para subir o s dele. e mais, a encardida chegada da junção morro abaixo, quinta a pleno. não teria como descrever para vocês, não encontraria palavras. são sensações que você sente quando por exemplo entra num louvre e descobre nomes como leonardo da vinci, raffaello sanzio, michelangelo merisi, rembrandt harmensz. ou quando ouve antonio vivaldi, franz schubert, wolfgang amadeus mozart, ludwig von beethoven, johann sebastian bach ou mesmo uma rhapsody in blue , de gershwin.
quando você percebe que está com alguém que faz parte desta lista dos eleitos , como os citados acima, você se sente especial. você vive um pequeno momento especial, que você vai levar para o resto da sua vida sem esquecer um detalhe.
poesia ou não, sempre tive a impressão que deus manda uns caras aqui na terra para mostrar como ele faz as coisas. mas, edgard, não dá para contar? desculpe, não dá. eu não tenho como descrever reações, comportamentos, atitudes, antecipações, acima de 200 km/h. você simplesmente fica olhando sem querer perder nada. é isso.
não dá para contar, é uma coisa sua, como foi de gagarin, carpenter, armstrong e buz aldrin. como você quer ver tudo e não perder nada, alguma coisa você registra. o resto, você absorve. acho que demos umas oito voltas, depois da terceira virou rotina, conversamos, demos risada, eu xinguei a fisa (para variar)...o cheiro de borracha queimada não parou, nem diminuiu, nés é que acostumamos com ele. lá pela sexta volta perguntei sobre donington a resposta você já sabe. a peruazinha s2, um dem?nio, serve até para ir é feira, mas não leva desaforo para casa. aquele motor não tem cavalos, tem bufalos enlouquecidos que, quando provocados, fazem desabar uma tormenta.
perto do portão de sa?da, falei: me deixa aqui, vou andando até a minha sala. falou, até mais, chefia . preocupado, me pediu: qualquer coisa, me liga. se chegar algum pedido da fisa, me passa por fax .
para não perder o costume, provoquei na sa?da: fica frio. da próxima vez, vem com um a8, tá bom? .
ele deu uma gargalhada e se perdeu no transito da teot?nio vilela.
fico imaginando que, para quem pudesse andar com jim clark, ronnie peterson, gilles villeneuve, jackie stewart, nelson piquet e michael schumacher, a sensação deveria ser a mesma. só sei que, lá pelas tantas em casa, já na madrugada, olhei para o relógio e vi que o cron?metro ainda estava funcionando. eu tinha esquecido de parar aquela volta que fiquei de marcar. naquele momento, 1h30 da manhã, descobri que oito horas atrás eu tinha vivido uma aventura que ficaria na minha lembran?a para o resto dos meus dias. simplesmente ela se juntava a outras como o meu primeiro dkw de corrida, a minha primeira vit?ria com o opala, a vit?ria nos 1000 km de brasília, a vit?ria nas 12 de goi?nia, a vit?ria no trof?u josó carlos pace em brasília, meu primeiro campeonato brasileiro de d3, o segundo, meu primeiro vão num pa18, (todo mundo chamava de teco-teco). lembran?as, memorys, coisas que você não esquece mais.
não sei se isso ajudou, mas por essa e outras experiencias eu não tive nenhuma dúvida em ir para a frente das c?meras da tv manchete naquele maio maldito e ficar berrando, durante oito ou nove horas, que podiam esconder todas as fitas que quisessem, mas ele não tinha errado [nota2: eu assisti e realmente ele berrava e xingava como nunca tinha visto numa tv antes…isso durante todo o domingo..]. alguma coisa tinha quebrado ou acontecido. está bem, não discuto, tinha chegado a hora dele, ninguém foge dos des?gnios de deus. mas ele foi de po, como um grande campe?o. reduziu tr?s marchas e freou. quer mais consci?ncia do que isso de uma situação de emerg?ncia?
os números podem falar o que for, pouco me importa. eu sou feito de emoção. nasci, vivi e vou morrer assim. a vida sem adrenalina simplesmente não tem gra?a. jamais vou separar a emoção do coração. por isso, onde você estiver - acelera, ayrton. acelera, campe?o
edgard de mello filho_
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meu que texto é esse
realmete é de arrepiar mesmo
só uma coisa: acelera ayrton acelera