Coluna alta roda é morrer na praia
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foto: divulgação / chevrolet cruze sport6
finalmente, o aguardado novo regime automobilístico brasileiro foi anunciado na semana passada, às vésperas dos feriados da páscoa. apesar de fama (merecida) do país de quebra de regras, protecionismo e excesso de intervenção na economia, é apenas o terceiro programa, em mais de meio século, desde o pioneiro em 1956, quando se criou o grupo executivo da indústria automobilística (geia). o segundo, em 1995, também se implantou sem grandes sobressaltos.
depois de 56 anos, o mundo mudou bastante. e ficou mais fechado ao comércio, depois da crise financeira mundial de 2008. seria ingenuidade supor que o brasil devesse bancar a vestal em baile de carnaval. aliás, pesquisa de instituto especializado no exterior aponta o país só em nona posição, com 49 medidas de ?defesa comercial? no período, contra 242 da união europeia, 112 da rússia e 111 da argentina.
em setembro do ano passado, anunciaram-se as linhas gerais da nova política para o setor. implicou aumento de 30 pontos percentuais (pp) do ipi para veículos leves de todas as origens, inclusive os produzidos aqui. ao mesmo tempo, criaram-se regras para dispensar esse aumento, se cumpridas certas condições agora anunciadas. na época, os importadores gritaram que os compradores seriam prejudicados e a ausência de concorrência externa elevaria os preços. seis meses depois não subiram e até diminuíram, à exceção de modelos importados de médio e alto preço. ainda assim, se absorveu parte dos ônus, pois a taxa de câmbio camarada para importação deixa grande margem de manobra.
o regime anunciado é complexo e tomou a maior parte dos debates no iii fórum da indústria automobilística, da automotive business, nessa 2ª feira, em são paulo. nem tudo ficou completamente esclarecido pelo pouco tempo para análises pré-fórum. mas se trata de um programa coerente, com começo, meio e fim, entre 2013 e 2017, focado na atração de novos fabricantes, aumento de investimentos, incentivo ao uso de peças nacionais e pesquisa/inovação dentro do país. acaba com o tradicional índice de nacionalização, substituindo-o por cálculo de compras internas vinculado à redução total dos 30 pp adicionais de ipi, o que poderá dobrar o uso de componentes regionais do mercosul.
marcas que se aproveitaram da frouxidão de regulamentos anteriores terão dificuldade em manter operações rentáveis no brasil. a previsão para 2017 é um mercado interno de 5 milhões de unidades (com caminhões e ônibus), a partir de 3,8 milhões em 2012. até aquele ano, a concorrência será bem maior, com mais fabricantes produzindo internamente sob as mesmas regras e estimulados a oferecer modelos atuais e inovadores para obter redução de impostos.
outros aspectos desses regimes serão abordados pela coluna, inclusive sobre o provável cenário de preços reais, considerada a inflação, aquilo que realmente interessa ao consumidor. abriu-se, na verdade, uma janela de cinco anos para melhorar competitividade e modernização da produção brasileira. ao governo, porém, caberão ações fundamentais de combate às ineficiências estruturais e aos altos custos visíveis e invisíveis do país, de sua responsabilidade, sem as quais vamos nadar, nadar e morrer na praia.
roda viva
primeiro recuo de vendas no trimestre inicial, desde 2003, aconteceu agora em 2012. na realidade foi de apenas 0,8% em relação a 2011, atribuído às dificuldades de aprovação de financiamentos ao consumidor. a considerar, ainda, notícias de que o governo patrocinaria redução de juros, via bancos estatais. pode ter tido impacto sobre expectativas dos compradores.
cruze sport6 engrossa disputa entre hatches médios-compactos, de visual tão atual como o do peugeot 308. espaço interno igual ao do sedã cruze, mesmo motor de 1,8 l/144 cv, câmbio manual ou automático de seis marchas e até teto solar na versão de topo ltz. suspensões e direção muito bons. preços, puxados por equipamentos, de r$ 64.900 a r$ 79.400, limitarão vendas.
racionalização do número de versões foi a estratégia da mercedes-benz para seu roadster slk enfrentar o aumento do ipi. antes havia três opções, agora só a de r$ 249.990 e, mais adiante, a amg sob encomenda. fábrica espera redução próxima a 50% na comercialização de 2012 em relação a 2011. ano passado compras foram antecipadas para fugir do imposto.
versa apresenta estilo algo controverso. no entanto, destaca espaço interno, motor adequado e preço realmente diferenciado, pelo que oferece, a partir de r$ 35.590. redução de oferta em função das cotas de automóveis mexicanos atrapalhará planos da nissan. incomodam bancos dianteiros de assentos curto demais, incompatíveis à proposta de modelo espaçoso.
para quem deseja acompanhar debates sobre embriaguez ao volante e assinar petição pública há um site bem estruturado: www.naofoiacidente.org. participa de redes sociais (facebook e twitter). iniciativas desse naipe são bem-vindas para engajar pessoas por mais segurança no trânsito.
contato do autor: [email protected] e www.twitter.com/fernandocalmon