Editorial: discurso da cba é patético
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link da notícia do antidoping(ñ postei pq o post já ficou grande): http://ultimosegundo.ig.com.br/paginas/gra…7/489877_1.html
editorial: discurso da cba é patético
warm up
16/06/2008 - 10:21
flavio gomes
de são paulo
o fato de a cba desrespeitar o regulamento antidoping da fia no caso de paulo salustiano é o de menos. a fia que cobre de sua coligada brasileira uma posição sobre o episódio, se achar que deve. a negativa da cba em revelar a substância consumida pelo piloto, baseada no discurso patético de que não se deve criar celeuma , essa, sim, é preocupante.
o grande prêmio fez o que pôde para arrancar da cba e da vicar, organizadora dos campeonatos abrigados sob o guarda-chuva da stock, palavras oficiais a respeito da natureza do doping. não porque queira colocar o piloto numa cruz, assumindo a paternidade de uma cantilena moralista e conservadora. a suposta calvície do rapaz e o que ele toma ou deixa de tomar em sua vida fora das pistas são questões pessoais que não nos dizem respeito.
mas o grande prêmio julga importante esclarecer à opinião pública e aos demais participantes do campeonato que tipo de substância anda sendo consumida por aqueles que dirigem carros de corrida pelos autódromos brasileiros. mais ainda depois das denúncias feitas pelo também piloto renato russo após a morte de rafael sperafico no ano passado — de que há pilotos que ingerem bebidas alcoólicas e se drogam antes das corridas.
se há pilotos que consomem drogas, a cba, a vicar e o médico da stock têm a obrigação de apurar e, uma vez apurado, informar àqueles que podem ser afetados por tal comportamento. porque o consumo de drogas coloca em risco a vida das pessoas mais diretamente envolvidas nas corridas. apenas isso. o grande prêmio não fará acusações ao piloto. não vai apontar o dedo para o rapaz e dizer que ele consome isso ou aquilo, julgando-o culpado ou inocente. não é nossa tarefa. isso é problema, como já dito anteriormente, dos que estão diretamente envolvidos com a organização e com a realização das corridas. e dele próprio.
o questionário que o grande prêmio enviou por escrito tanto à cba quanto à vicar, com perguntas simples e diretas, não tinha como objetivo funcionar como peça acusatória ao piloto salustiano. a intenção era — e é — apenas esclarecer fatos e exigir transparência. exigir pode parecer palavra forte para uma empresa jornalística que nada tem a ver com a categoria — e nada temos, mesmo. mas se aplica, porque nos achamos na obrigação de levar explicações daqueles que as devem ao distinto público — que, afinal de contas, sustenta a farra esportiva.
a cba, que nos últimos anos vem prestando vários desserviços ao automobilismo brasileiro, presta mais um agora se recusando a divulgar o resultado do antidoping para não criar celeuma . a atuação da entidade, no que diz respeito ao esporte, é das mais ridículas que se poderia descrever. os autódromos do país estão caindo aos pedaços, as categorias de monopostos acabaram, o kart está em fase de extinção, não há campeonatos de marcas, as montadoras de automóveis não se envolvem com as corridas porque não vêem credibilidade e seriedade no comando legal do automobilismo e a única face próspera da entidade é sua capacidade de emitir carteirinhas de pilotos, a preços bastante razoáveis.
diante desse quadro de visível falência do automobilismo nacional, a cba tem se preocupado com afinco, nos últimos tempos, em proibir corridas independentes e em combater as ligas que tentam driblar sua inoperância. mesmo nesse seu, digamos, campo de atuação os resultados têm sido risíveis, com a entidade tendo de engolir decisões judiciais que simplesmente apontam que sua cruzada supostamente legalista é, na verdade, contra a lei.
quando aflora um caso grave como o do resultado positivo de um antidoping (que só passou a ser feito na stock depois da pressão da imprensa especializada após as denúncias de russo; o presidente da cba, por ele, não levaria adiante a rotina dos exames antidoping por achá-los desnecessários ), o mínimo que se esperaria de uma entidade séria era a condução desse caso com a seriedade que ele merece.
mas a cba prefere não criar celeuma e esconder a verdade — seja ela qual for. a vicar, de maneira igualmente ridícula, se omite — e finge que não sabe o que apareceu no resultado do exame de salustiano. os pilotos da stock, que deveriam cobrar de ambas explicações, se calam e tornam-se coniventes. o médico responsável pela categoria, que sabe o resultado do exame, demonstra pouca preocupação com os demais pilotos ao, igualmente, escondê-lo. talvez porque seja dono de um hospital que é parceiro comercial da categoria, além de patrocinar pilotos e equipes, e não queira ver o nome de sua instituição envolvido em questões polêmicas.
e assim caminha o automobilismo brasileiro, povoado por um bando de mentirosos que fazem do mundo das corridas seu meio de subsistência e que, por isso, evitam as celeumas . dessa forma, procuram vender uma imagem de seriedade às suas picaretagens esportivo-comerciais, sabendo que sempre haverá quem as compre. porque muitos dos que as compram também não gostam de celeumas , e assim tudo fica em casa.