Dica de pilotagem: use o pescoço, não a cabeça
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dica de pilotagem: use o pescoço, não a cabeça
é um detalhe que parece banal. inclinar a cabeça para o lado de dentro em curvas velozes é um movimento inconsciente, mas que muita gente faz de propósito, para impressionar os passageiros e transeuntes. é um vício corporal que traz conforto e estilo ao custo de percepção espacial e axial; aumentando os tempos de volta e dificultando a constância rítmica. neste post veremos por quê isso é ruim.
do nosso corpo, a cabeça é a parte que mais vai sofrer a força g nas curvas. além de estar no lugar mais alto (a não ser que você seja o corcunda de notre-dame), nosso crânio não está travado em um apoio como as nossas costelas, coxas e pés. mesmo os bancos de competição tipo stock car, com apoios laterais superiores, exigem que nosso pescoço faça muita força, pois estes suportes laterais não servem para apoiar a cabeça nas curvas; e sim para proteger a coluna cervical e os músculos de fraturas.
por estar submetido a tanto esforço, é natural que nosso corpo reaja e procure a posição de mais conforto. é aí que entra a inclinada de cabeça para o lado de dentro nas curvas, como um papagaio. desta forma, os músculos do pescoço e trapézio trabalham em menor tensão, o jogo de pêndulo é reduzido, e tudo parece perfeito. mas há uma parte extremamente sensível do seu organismo que não vai gostar desse movimento de arara.
ele está do lado de dentro dos seus ouvidos, e se chama labirinto. é uma pequena e complexa estrutura óssea e membranosa inerte em dois líquidos, perilinfa e endolinfa. o fluxo de ambos estimula células ciliadas, que fazem a leitura do nosso ângulo corporal, mais ou menos como aquelas réguas de nível, utilizadas em construções. quanto mais inclinada a nossa cabeça, menos precisa esta leitura se torna.
o labirinto é a estrutura complexa após a membrana timpânica, e por isso, é conhecido também como ouvido interno
quando um carro contorna uma curva em velocidade, há uma série de movimentos em eixos diferentes. temos a rolagem da carroceria, o raio da curva descrita no asfalto, o sutil desgarramento dos pneus dianteiros ou traseiros; e claro, as forças g agindo em todos os eixos. é bastante informação para o cérebro processar e comandar as suas reações (bem treinadas, espero) em átimos de segundo para controlar o automóvel em situações-limite. e quase toda a informação processada pelo cérebro será captada pelos labirintos. você não quer interferir em algo tão importante.
a força g não é desculpa para deitar a cabeça como o cara da abertura do post. note o piloto deste mustang, com pneus slick em uma curva igualmente fechada.
faça um teste, mas garanta que ninguém está te vendo, ou você irá acessar o jalopnik de um manicômio a partir dos próximos dias. fique de pé, tombe a sua cabeça o máximo possível, deixando-a bem perto de um dos ombros. agora, ande em linha reta. você vai perceber que a coisa é tão importante, que interfere um pouco na coordenação dos seus pés e até dos olhos. não fique desapontado se der uns passos meio estranhos e desalinhados.
no automobilismo, acontecerá uma versão miniatura deste problema. as curvas duram menos e são feitas em transições rápidas; mas suas respostas e a capacidade de percepção espacial e axial serão sutilmente reduzidas.
você não precisa pilotar como um boneco de olinda, com o pescoço duro como um recruta na guerra. apenas mentalize para evitar exageros: toda vez que você der uma de papagaio, estará prejudicando a percepção dinâmica do automóvel. pode ser um pouco mais cansativo ao pescoço, mas neste caso, o paradoxo justifica: deixar de usar a cabeça é fazer bom uso da cabeça.
ps: talvez alguns se perguntem - e as motosó no motociclismo, o prumo da cabeça e de todo o corpo acompanha o do veículo como um objeto só, e o ângulo varia de acordo com a velocidade exigida nas curvas. o problema de inclinar demais a cabeça no automóvel é criar uma variável independente, sem referência fixa em relação ao prumo da carroceria. isso confunde o organismo.
show de bola a dica.