Ao volante do diablo vt 6.0 se
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ao volante do diablo vt 6.0 se
você provavelmente pendurou fotos de carros na parede do quarto. dependendo da sua idade, o lamborghini diablo provavelmente foi um desses carros. stuart fowle da kilometer teve a chance de [pilotar a lenda]([i]pilotar a lenda[/i])_._
cada geração dos topos de linha da lamborghini deixou seu legado, uma marca no tempo para cada nova geração de obcecados por carros. se você cresceu durante a década de 1980, provavelmente teve um pôster do countach em seu quarto. garotos da década seguinte se lembrarão de correr com o diablo e sua então incompreensível máxima de 325 km/h no need for speed original. e agora chega a hora do murciélago pendurar as chuteiras – quem sabe, talvez os garotos de hoje se lembrarão do lp670-4. com a chegada ao fim da produção do murciélago, decidimos revisitar um dos modelos mais famosos da empresa: o diablo vt 6.0 se.
o vt 6.0 se não apenas marcou o fim da produção do diablo, como representou o começo de uma nova era. controlada pela chrysler entre as décadas de 1980 e 90, depois vendida para o filho do presidente da indonésia, a lamborghini, no final do milênio passado, passou mais tempo trocando de dono que produzindo novos modelos. a audi comprou a empresa em 1998, e os alemães parecem dispostos a controlá-la por um bom tempo, ao invés de acabar com a reputação da marca. (enquanto isso, a chrysler passa por uma crise de identidade e é controlada por italianos…)
sabendo que um sucessor do diablo levaria tempo para ser desenvolvido, a audi pôs sua equipe de projetistas – a primeira vez em décadas que alguém que não se chama marcello gandini daria as formas a um lamborghini – para atualizar o carro para mais alguns anos de serviço. os faróis escamoteáveis foram abandonados, alguns novos recortes e curvas foram acrescidos, e assim, o diablo era novo (de novo). o resultado, o vt 6.0 se, dava sinais claros da direção em que a audi levaria a lenda italiana.
as duas primeiras letras no codinome final do diablo talvez sejam as mais importantes – viscous traction , ou tração viscosa. no dialeto de sant agata, significa um sistema de tração integral com acoplamento viscoso, uma marca dos novos donos alemães, famosos por cunhar o termo quattro [nt: derivado do italiano, por sinal]. o 6.0 simboliza o motor v12 reprojetado dos 5,7 litros originais para 6. o motor recebeu uma nova programação e materiais como titânio e magnésio. a potência subiu de 537 cv (os primeiros diablos tinham só 486 cavalos) para 557, aumentando a velocidade máxima para 330 km/h e jogando o tempo de 0 a 100 abaixo dos quatro segundos. já o se no nome significava special edition .
mostrado em genebra em 2001, os carros da edição especial seriam os últimos a deixar sant agata antes do começo da produção dos murciélagos. apenas quarenta unidades foram fabricadas, divididas igualmente entre duas cores: oro elios, um dourado metálico, simbolizava um nascer do sol, enquanto o marrone eklipsis, um marrom metálico, era inspirado no pôr do sol. ambos, pelo que parece, foram inspirados pelo marketing, com o interior em couro marrom carregando um quê de audi . a alavanca de câmbio e os detalhes do painel de instrumento eram feitos de titânio, uma ligação com os materiais modernos utilizados no motor.
o cofre do motor tinha um acabamento de fibra de carbono sem cobertura de tinta, uma demonstração impressionante do material que compõe boa parte da carroceria do se. sobre o motor ficam coletores de admissão em magnésio e uma cobertura do motor que é tão elegante que faz você se perguntar porque o carro não recebeu uma superfície transparente na traseira. há ainda fibra de carbono pura na parte inferior do carro, em partes das portas e em diversos lugares do interior, onde pequenos parafusos provavam que a audi não eliminou a qualidade de construção dos italianos. para o se, a fibra de carbono era entrelaçada com pedaços de titânio, oferecendo um interessante brilho metálico dependendo do ângulo que se vê.
o exemplar em oro elios visto aqui, um dos dez nos estados unidos, foi comprado ainda novo pelo dono atual e só percorreu 9.600 quilômetros, com os pneus originais. a cor da tinta parece discreta nas fotos, mas assim que a luz do sol reflete na lataria, é tão berrante quanto qualquer estereótipo que se tenha dos italianos. nós entendemos a referência feita ao sol no nome, porque quando o carro surge no horizonte, não se deve olhar diretamente para ele.
a coisa mais insana do diablo são suas proporções, e a cor especial parece que amplia isso. é 10 cm mais largo que um bmw série 7 novo. sua baixa altura o faz parecer ainda mais largo, e seus contornos jogam a visão para a asa traseira; o carro parece que é um motor, com os assentos espremidos ali por pura necessidade. parece que as lanternas ficam acima da cabeça dos passageiros. até lembra o visual de um esportivo normal, visto pelas paredes de uma casa de espelhos.
cada uma das portas tesoura sobe para revelar um interior em couro marrom e carbono, que não perdeu seu charme com o tempo, como normalmente acontece. está certo que o formato do painel é arredondado, como era a maioria na década de 1990, mas a organização é direta e objetiva. não deve nada ao do murciélago, mas nenhum dos dois é tão moderno quanto o gallardo, mais inspirado pela audi. os assentos são confortáveis mas exigem algum malabarismo, lembrando que seu traseiro fica a poucos centímetros do chão.
quando se liga o motor, fúria é uma palavra que se espera vir à cabeça, mas não é o que acontece. um tigre nervoso com os giros no alto, o gigantesco v12 se parece mais com um gato manso abaixo dos 3000 rpm. enquanto o motor aquece nos primeiros minutos, os computadores de controle sistematicamente desligam um cilindro de cada vez, procurando por defeitos. o processo se torna perceptível com uma mudança rítmica no tom de escape, assim como na nuvem de fumaça que se forma a cada retorno de cilindro. é um processo estranho e ao mesmo tempo intrigante.
a relação de marchas do se é um pouco mais curta que nos outros vt 6.0, então ele arranca mais bruscamente que seus antecessores, e chega aos 100 km/h mais perto da casa dos 3,5 segundos que quatro. atrás das rodas com visual de revólver, as pinças de freio brembo carregam o logotipo da lamborghini, característica única do se. independente da pintura, eles agarram firme, com a força que lembra uma mordida de língua.
muita coisa no diablo lembra o murciélago, mas o som do motor é onde os carros se distinguem. os engenheiros da lambo queriam que o diablo fosse um supercarro usável, e com a exceção do curso da suspensão, eles tiveram sucesso. mas o motor, consequentemente, parece domesticado. os sons que dele se esperam só surgem com o giro lá no alto, e quando o carro chega aos 110 km/h (em primeira…), é difícil explorar com cuidado o lado sonoro do v12. o som é meio bruto, e em um duelo de ronco com um murciélago, o diablo não teria muita chance.
entre a equipe da kilometer nós temos um equilíbrio entre os caras do countach-na-parede e os caras do diablo-no-need for speed. aqui, os fãs do countach que domaram a lenda pessoalmente vão admitir que saíram desapontados. este escritor, por outro lado, faz parte do grupo mais jovem, e encontrar o diablo foi um momento especial. ele tem a velocidade, as proporções agressivas, e passa uma rara sensação de um carro muito bem construído. mas como uma máquina do asfalto, não há como negar que seu substituto é mais nervoso, mais psicótico, e uma fonte que transborda emoção.
daqui a uma década, quando sem sombra de dúvidas teremos alguém mais jovem lembrando dos murciélagos no bom e velho youtube, será difícil imaginar o que ele dirá ao comparar seu sonho de infância com seu substituto, que deve surgir em 2012 e supostamente se chamará jota . entre o countach e o diablo, a lamborghini aumentou a dirigibilidade e potência. do diablo para o murciélago, foi a emoção e a proporção. para a próxima transição, nós acreditamos que é hora de melhorar o interior, com o fim dos sistemas de som e os assentos duros e desalinhados. um pouco mais de leveza seria bom também, e claro, mais potência. mais potência sempre.
a [kilometer magazine]([i]kilometer magazine[/i]) é focada em grandes carros – do passado, presente e futuro – da alemanha, itália, inglaterra e suécia, com algumas máquinas da frança e espanha. eles produzem coisas muito interessantes, que você deveria conferir.