Avaliação “ volkswagen gol rallye i-motion 1.6 vht (g5) (flex) 2013
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fotos: marcus lauria
eis o líder de vendas do mercado brasileiro. claro, não exatamente este carro que testamos, mas sim o gol, modelo que, ao longo de gerações, carrega na cintura o cinturão de campeão de vendas, não importa os concorrentes que aparecem pelo caminho, ainda que um ou outro ameace sua liderança. no acumulado de outubro da fenabrave por exemplo, o gol obteve 21.722 unidades vendidas, ante 14.410 unidades do fiat uno, segundo colocado. no acumulado do ano, a diferença é igualmente expressiva, 209.871 unidades do alemão contra 155.397 unidades do italiano.
mas o gol que vende mais não é o gol rallye. este último é um carro com público-alvo bem definido, quase aquele tipo de consumidor da nova moda gourmet, ou seja, comidas convencionais com roupagem diferenciada e sabor semelhante, mas que custam mais caro e satisfazem o ego de quem os consome. para a maioria das pessoas não mudaria nada, e seria totalmente dispensável, mas para quem defende os produtos gourmet, faz toda a diferença.
na mecânica, as modificações em relação ao gol 1.6 convencional são poucas. além dos 28 mm a mais de altura de rodagem, a barra estabilizadora dianteira é mais parruda. mas o refinamento da modificação não consiste apenas em molas mais altas, houve modificação na altura do chassi e do conjunto de motor e transmissão em relação ao monobloco, que estão posicionados 20 mm mais baixos que o convencional. esse refinamento permite que a suspensão trabalhe praticamente na altura de projeto, ainda que o carro tenha maior distância livre do solo. as rodas aro 16 são exclusivas, e apesar do apelo aventureiro, são calçadas com pneus de asfalto pirelli p7, de medida 195/50 r16.
seu preço já começa em altos r$ 49.450, trazendo como equipamentos de série ar-condicionado, direção hidráulica, freios com abs, duplo airbag frontal, pedaleiras cromadas e trio elétrico. e para estacionar na garagem um exemplar igual ao que testamos, coloque na conta o pacote i-trend com shift paddles (r$ 1.370) que inclui i-system, rádio com bluetooth e entradas auxiliares e volante multifuncional com paddle-shifters. não esqueça da lanterna de neblina (r$ 121), os faróis com coming & leaving home (r$ 201) e o revestimento dos bancos em couro native (r$ 631). ah, inclua também a cor amarelo solaris (r$ 1.585), fazendo o preço do carro chegar em r$ 53.358.
logo ao entrar no carro, nota-se que os encaixes são ótimos, com plásticos de qualidade aceitável. a ergonomia é boa, padrão alemão, com a maioria dos comandos no local correto, exceto o acionamento dos vidros elétricos traseiros no centro do painel. ponto positivo para a posição de dirigir excelente, graças à regulagem em altura e profundidade da coluna de direção. o assento merecia uma regulagem de altura melhor, sem a necessidade de precisar levantar-se do mesmo para efetuar a regulagem. já o espaço interno é bom nos bancos dianteiros e aceitável na parte traseira, que traz espaço razoável para as pernas e bom para a cabeça, mas no meio do banco viaja apenas uma criança. o porta-malas está na média, com 285 litros.
não há dificuldade para manobrar o gol rallye, suas dimensões são compactas, com 3,92 m de comprimento e largura de 1,65 m. além disso, a visibilidade é exemplar para todos os lados, e tudo fica mais fácil com o sensor de estacionamento que traz ainda tilt-down do espelho direito e visualização gráfica. o diâmetro de giro de 10,8 m poderia ser melhor, mas a direção hidráulica de peso suave em manobras facilita o trabalho do condutor. em garagens ou balizas, apenas o câmbio automatizado asg atua como vilão, por não contar com o recurso de avanço lento creeping, tornando tensas situações simples, como aqueles pequenos centímetros que precisamos andar para ficar mais perto da parede, ou do carro alheio, sem precisar medir a distância no tato, ou seja, batendo.
o motor é o velho conhecido ea111 vht 1.6 8v, com 101/104 cv de potência @ 5.250 rpm e torque de 15,4/15,6 kgfm @ 2.500 rpm (gasolina/etanol em ambos os casos), que combina deliciosamente bem com os 1.018 kg do gol rallye. o torque em baixa seduz em uso urbano, ainda mais nesse câmbio asg, que teve as relações da 2a, 3a e 4a marcha encurtadas, resultando em retomadas bem ágeis. acionando o botão sport do câmbio, torna-se viciante acelerar fundo e sentir o bom torque do motor ditando as regras da brincadeira. mas para andar suave, o modo drive convencional faz trocas em rotações baixas, privilegiando o consumo, embora apresente trancos desagradáveis, especialmente nas marchas mais baixas. o ajuste da suspensão é excelente, sem ressalvas.
em percurso rodoviário o carro vai igualmente bem, com retomadas rápidas e aceleração exemplar até os limites de velocidade da estrada, embora o motor perca um pouco do seu fôlego inicial em altos giros. em modo automático, o câmbio entende bem as solicitações do condutor, respondendo bem ao kick down e trocando as marchas com boa velocidade, especialmente em modo sport, que praticamente ignora a 5a marcha. em velocidade de cruzeiro, a suspensão filtra bem as irregularidades, enquanto o isolamento acústico mantém os ruídos aerodinâmicos quase totalmente do lado de fora.
mas a cereja do bolo deste carro é seu comportamento dinâmico em curvas. pegue aquela estradinha de serra com baixo movimento, jogue a alavanca do asg para o modo manual, acelere até a entrada da curva, reduza duas marchas, sinta os pirelli p7 mordendo o asfalto, então acelere na saída e jogue as marchas para cima conforme a velocidade sobe. repita até a exaustão e admire como esse carro altinho tem chão suficiente para andar junto com o gol convencional em qualquer estrada sinuosa, com pouquíssima rolagem de carroceria. no limite a dianteira escorrega, mas a neutralidade do carro é notável, uma delícia. os freios respondem bem ao comando, embora o pedal seja borrachudo demais e o abs não seja tão permissivo.
completamos cerca de 500 km de testes com o gol rallye, sempre abastecido com gasolina. o consumo ficou na casa dos 9,2 km/l em uso urbano e 12,6 km/l em uso rodoviário, que eu considero apenas razoável devido ao baixo peso do carro, mas pesa na conta o elevado cx de 0,369. na prática, o gol rallye cobra caro por sua roupagem rebelde, cerca de r$ 2.000 a mais que um gol highline com equipamentos semelhantes. de qualquer forma, ambos são caros, assim como um brigadeiro gourmet é caro, mas tem quem compre. se você faz questão de um carro com dinâmica excelente, suspensão parruda para passar rápido em lombadas e levantar poeira naquelas estradas de terra aonde todos andam mais devagar, ou apenas curte o gol com visual aventureiro, este é o seu carro.
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