Zanardi: um homem com sede de desafios
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alessandro zanardi é um exemplo de vida, seja para torcedores ou para meros espectadores, por conta de seus dramas e em particular, de suas vitórias, nas pistas e fora delas.em conversa com o jornalista guilherme seto, da folha de são paulo, o italiano bicampeão da fórmula indy e três vezes medalhista paralímpico garante que não consegue se lembrar do mais serio acidente de sua vida, ocorrido em 15 de setembro de 2001, na disputa do gp da alemanha, em lausitzring. quando ele regressou à pista após uma parada nos boxes, perdeu o controle do seu carro da equipe mo nunn e foi atingido pelo forsythe de alex tagliani na altura da suspensão dianteira, que causou o decepamento das suas duas pernas.
o choque foi tão forte, que acabou sendo comparado por steve olvey, diretor médico da cart como semelhante a pisada de um soldado num front de batalha numa mina terrestre.
dali em diante, um longo processo de recuperação, incluindo uma simbólica jornada de 13 voltas na mesma pista alemã, uma vitória nas 500 milhas de kart na granja vianna, em 2003, participações no mundial de turismo com a bmw e três medalhas (duas de ouro e uma de prata) na paralimpiada de londres-2012 e mais duas medalha de ouro no mundial de paraciclismo.
contudo, a sede de disputas de zanardi parece não ter fim. o piloto e agora atleta, decidiu encarar provas de triatlo. e não seria uma prova qualquer, e sim o ironman de kona, no estado norte-americano do havaí. o evento é um dos mais exaustivos do mundo, contemplando 3,8km de natação, 180km de ciclismo e 42 km de corrida.
“os jornalistas italianos me ligavam incrédulos, céticos, partindo do princípio de que seria impossível completar a prova. mas se eu não soubesse desde o começo que era possível, eu não teria nem me inscrito”, brincou
“eu quase não tive tempo de me preparar, mas acho que é mais fácil para quem não tem as pernas. a última parte da prova, que é a mais árdua, eu percorri com a cadeira de rodas olímpica, o que me parece mais fácil do que utilizar as já esgotadas pernas”, completou.
em 11 de outubro de 2014, ele disputou o evento e foi o 273º colocado dentre 2.187 participantes, completando a prova em 9h47min14s.
claro que o desempenho e resultado obtidos emocionaram o italiano.
“é mágico, quase indescritível. quando você chega nos últimos 500 metros, você vê os moradores locais chorando, rezando, perdendo as estribeiras, para te incentivar. e então o locutor diz: ‘alex zanardi, você é um iron man [homem de ferro]‘, e você sabe que nunca vai esquecer daquilo”, falou alex, que já quer novas fontes de superação.
“bate uma tristeza também, sabe? porque um fim é sempre um fim, mesmo que seja uma vitória. é o fim de mais de 200 km de desconforto, mas também de felicidade, de alegria. aquilo não vai se repetir novamente. não haverá de novo uma primeira vez que encostei os pneus do meu paraciclo na terra de kona”, disse.
um desses novos testes já tem data e local marcados, 2016, no rio de janeiro, local da próxima paralimpiada.
“estou me dedicando intensamente para estar aí. estou treinando todos os dias. hoje, eu só parei para te atender. os brasileiros gostam muito de mim, e é mútuo, vivi algumas das maiores alegrias da minha carreira no brasil. é muito, muito possível que eu esteja aí. é a minha meta, hoje”, fala de forma empolgada.
uma situação que inquieta zanardi é o fato de não poder responder cestas questões e duvidas de seu filho, nicolo, que já tem 16 anos de idade.
“eu me sinto inseguro quando eu não consigo dar a meu filho de 16 anos as respostas sobre o futuro dele. quando eu o vejo sofrer e não posso sanar suas questões que ainda não têm resposta. quanto à minha carreira, eu procuro levá-la passo a passo, desfrutando cada momento”, comenta.
“sabe, desde que soube que você iria me ligar fiquei pensando em como brasileiros e italianos são parecidos. nós sabemos aproveitar a vida no que ela tem de positivo, ver o que há de melhor nas coisas. é isso”, sintetiza.
por fim, zanardi comenta sobre a força que o move desde o dia que começou a competir no kart.
“o puro prazer de continuar. eu sempre me lembro daquela volta no pequeno carro em 1980, eu muito lento, o pior de todos, e sonhando em ser um piloto. e eu consegui: eu vivo a velocidade”, concluiu.