Contos “ após as 17 horas
-
foto: divulgação
eu entrei na loja da harley devidson, fui imediatamente recepcionado por um vendedor. já entrou em uma loja da harley? apenas entre e depois me fale…
enfim, como todo bom vendedor, o que me abordara era bastante comunicativo e entendedor do assunto. óbvio!
quando entre, de cara, me deparei com uma belíssima máquina de duas rodas que estava estacionada no centro da loja. eu estava ali, certo de que iria comprar uma low rider! o vendedor não sabia, mas eu já estava comprado. ele não iria precisar me convencer de nada, a própria vida já havia me convencido.
naquele exato momento, quando vi minha low rider, toda cromada e seu acabamento primoroso, voltei ao tempo, voltei aos meus dezoito anos de idade, época em que meu pai desfilava sua máquina de duas rodas para me buscar na escola. ele sempre foi amante de harley!
todos os dias, ao sair do colégio, vários “carrões” paravam em frente ao instituto educacional mais conceituado de minha cidade. meu pai chegava de harley, era um modelo dos anos 70, ele estacionava perto da porta principal do colégio e o fuzuê era intenso todo santo dia! pais e filhos olhavam a belíssima moto e faziam perguntas praticamente o tempo todo. as pessoas não se cansavam, a reação era sempre a mesma. curiosidade!
eu me lembro como se fosse hoje, tinha um cara baixinho que dirigia uma caminhonete luxuosa e que sempre passava pela rua da minha escola, quando ele viu a harley do meu pai estacionada pela primeira vez ali, ele teve que pisar no freio bruscamente pois quase bateu no carro da frente. lembro-me da barulheira que a freada causou, da fumaça e do apito do guarda de trânsito. foi hilário! neste dia as pessoas ao redor não correram nem gritaram, espontaneamente gargalharam. era visível que o motorista perdeu a estribeira quando viu a harley do meu pai. foi o máximo! bons tempos! impagável, incansável! posso definir essa fase da minha vida, exatamente com essas duas palavras. sempre tinha uma aventura me esperando na porta da escola após as 17 horas.
voltando a loja, eu ouvia ao longe a voz do meu colega, querendo me vender uma harley. recobrei a atenção naquele momento e interrompi o falatório do vendedor. fui incisivo naquele momento e prontamente disse, vou ficar com a low rider. o coitado ficou assustado olhando pra minha cara e logo após falou:
– já percebi que sempre perco tempo querendo persuadir alguém a comprar uma harley.
eu olhei para o rosto do vendedor e em um tom irônico, meio cômico, respondi:
– meu amigo, sua função aqui e agilizar a documentação da minha máquina, preciso sair daqui antes da 17h, para pegar meu filho na escola.
ele riu, eu o apressei. faltando quinze minutos para às 17h, eu estava parado na porta do mesmo colégio que eu estudei a mais de vinte anos atrás, aguardando meu filho, para levá-lo na garupa da minha low rider e fazer valer um grande legado de meu pai, o dever de se sentir livre.