Cizeta v16t: marte atacou
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fotos e ilustração: renato pereira
eu costumo dizer que, há mais de um século, não se inventa nada no mundo dos automóveis, tudo o que vemos são repaginações de projetos e idéias tão “novas” quanto a invenção da roda. no entanto, vez por outra alguém resolve ter uma idéia diferente e colocá-la em prática, causando grande alvoroço no setor. o problema é que, via de regra, essas idéias diferentes são tão diferentes quanto inviáveis (ou insanas); é o tipo da coisa que, como reza um velho – e eficaz – conceito, “se ninguém está fazendo, é porque não dá certo”. como o cizeta v16t, por exemplo, pouco conhecido por aqui (quem jogou need for speed das antigas conhece), um fracasso retumbante que não tinha a menor chance de dar certo pela época em que foi criado, sua aparência e seu preço.
a cizeta automobili foi uma fabricante independente de carros, criada no final dos anos 1980 pela associação de cláudio zampolli, dono de uma concessionária ferrari em modena com giorgio moroder, um produtor musical, que se envolveu no projeto após conhecer quando levou seu lamborghini countach para consertar na oficina de zampolli. daí para se tornar sócio, fundarem a empresa cujo nome provém da pronúncia das iniciais cz de zampolli, e projetarem seu próprio superesportivo foi um pulo, e teria dado certo não fosse terem iniciado sua fábrica com um projeto tão… ousado, digamos assim, além de um pouco controverso.
o cizeta-moroder v16t foi desenhado por marcello gandini (criador do lamborghini countach), um projeto que havia sido apresentado por ele à chrysler-lamborghini, que depois de muitas alterações se transformou no sucesso lamborghini diablo; então, gandini pegou o projeto original recusado e o transformou no protótipo diablo cizeta, re-batizado como cizeta-moroder e, em 1990, apenas cizeta v16t, uma vez que seu motor era um mastodonte de 16 cilindros em v (o que joga por terra a coisa do bugatti veyron ser o primeiro carro com um motor nessa configuração), cuja produção se limitou a 17 unidades até a empresa fechar as portas em 1994, quando cláudio zampolli se mudou para fountain valey, na califórnia, e fundou a cizeta automobili usa, comercializando e dando manutenção em carros exóticos e, dizem, constrói o cizeta v16t sob encomenda, informação que parece não ser muito confiável (comenta-se que dois coupé e um spyder foram montados por lá entre 1999 e 2003), uma vez que o carro não pode ser legalizado por não atender as normas de segurança e emissões norte-americanas e um desses três supostos carros foi apreendido em 2009. mitos…
o nome cizeta já sabemos a origem. o v16t significa que seu motor é um v16 montado transversalmente, central, logo à frente do eixo traseiro e atrás dos assentos de passageiros. mas esse motor não “nasceu” v16; era a fusão longitudinal de dois blocos v8 originais do lamborghini urraco, com um único virabrequim, 6,2 litros, aspirado, com 560 cv de potência máxima, acoplado a uma transmissão manual zf com 5 velocidades e tração traseira.
o chassi era uma estrutura em tubos de aço e favo de mel em alumínio, coberto pela carroceria de linhas agressivas e esportivas bem ao gosto da época, como comprovam o próprio lamborghini diablo e o ferrari f40, por exemplo, no mesmo estilão, mas a beleza inicial de sua frente desaparecia assim que se acionavam os faróis, que se levantavam dos encaixes, uma ideia nada original porém piorada por serem 4 faróis escamoteáveis, e aí o príncipe se transformava em sapo. as laterais não eram feias, mas com as tomadas de ar para o motor um bocado exageradas, o que não ajudava muito no visual, complementadas pela estranheza da traseira (parte eternamente esquecida por projetistas e designers), além da arquitetura do motor, fica-se a impressão de que giorgio tsoukalos tem razão e os alienígenas estão entre nós…
o cizeta v16t foi projetado para ser um superesportivo, e no que tange à sua performance, não há do que reclamar, pelo contrário. para um carro do início da década de 1990 atingir facilmente a velocidade máxima de 328 kmh, e (204 mph) e acelerar de 0 a 100 km / h em 3,8 segundos era um feito impressionante para os seus “apenas” 560 cv, ainda mais com seu peso de 1.700 kg, fruto da somatória do material disponível na época e de todo o luxo que agregava em seu interior, que não era nada pelado como os demais supercarros italianos, onde tudo funcionava na base da “cordinha”, sem sistema de condicionador de ar, muito menos sistema de áudio. o v16t oferecia tudo isso.
o cizeta v16t era, então, 105 cv mais potente do que o lamborghini countach (455 cv) e 82 cv mais potente do que o ferrari f40 (478 cv), e os batia com sobras. o bugatti veyron grand sport vitesse com tração integral atual tem motor v16 de 16,4 litros, 1.200 cv de potência e atinge 409 km/h. resumindo? nos dias de hoje, o v16t certamente pesaria muito menos, sua velocidade final seria para além dos 420 km/h e a volkswagen-bugatti teria de dançar um quadradinho para superá-lo, mesmo com o dobro de potência de seu motor. quando foi lançado, o cizeta v16t custava em torno de € 250.000,00 atuais, e dando continuidade da possibilidade de quem se interessar poder encomendar uma unidade 0/km, seu preço é de u$ 650.000 na versão coupé e u$ 850.000 na versão spyder, o que nem seria tão caro para um superesportivo, mas é muito caro para um superesportivo que já está ultrapassado, apesar de suas performances mantê-lo em lugar de destaque entre os rivais atuais.
o último cizeta v16t comercializado que se tem notícia foi uma unidade 1994, no ano de 2009, a um preço de u$ 700.000, ali, na tchecoslováquia.
ficha técnica:
construtor: cizeta automobili
modelo: cizeta v16t
projetista: marcelo gandini
local: modena, itália
produção: 1991 a 1994, 17 unidades
classe: superesportivo
estrutura: 2 portas, coupé / conversível
lay-out: rmr – motor central traseiro / tração traseira
motor: cizeta v16 dohc 6.2
câmbio: zf, manual de 5 velocidades
comprimento: 4.445 mm
largura: 2.057 mm
altura: 1.115 mm
peso: 1.700 kg