Donington park - 1993
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donington park
frank richardson, comissério de pista, era um dos muitos funcion?rios do autódromo de donington park que estavam magoados com as cr?ticas publicadas na imprensa inglesa contra a escolha do circuito como palco do gp da europa de 1993 de f?rmula 1. um dos principais argumentos dos cr?ticos era o de que donington, uma pista tradicional das provas de motos e que também fazia parte do calend?rio das categorias menores do automobilismo britúnico, não tinha pontos de ultrapassagem.
donington 93, a obra prima de senna
dez anos depois daquele hist?rico gp da europa, o terceiro da temporada de 93, richardson e outros colegas ainda tinham no rosto o sorriso genu?no do orgulho, ao lembrar que senna precisou de apenas uma volta da corrida, a primeira, para saltar da quinta posição no grid para a lideran?a e demonstrar, aos cr?ticos de donington, que o circuito tinha, sim, não apenas um, mas pelo menos quatro pontos de ultrapassagem. dependia, é claro, de quem estivesse no volante.
as imagens da largada, naquele 11 de abril chuvoso e frio, se tornaram uma refer?ncia em qualquer conversa sobre f?rmula 1. segundos depois da luz verde, na freada para a longa curva é direita do final da reta, ayrton ultrapassou schumacher e embutiu imediatamente na traseira da sauber de karl wendlinger. o momento seguinte, ninguém consegue explicar de forma satisfatéria: num trecho veloz, sinuoso e em descida, que até em dias de sol qualquer moto ou carro de corrida fazia em fila indiana, ayrton sairia para ultrapassar wendlinger, por fora, do lado direito. para espanto geral, senna conseguiria manter a trajet?ria e ficar em condições de ultrapassar wendlinger na freada para a curva do final daquela descida.
senna colou na traseira de damon hill e levou apenas duas curvas para tomar-lhe a segunda posição. passar o prost, o láder da prova, seria demais, muitos pensaram. momentos depois, na aproximação de uma curva em forma de grampo, já no trecho final do circuito, foi mesmo demais. senna tomou a ponta de alain, a tempo de fechar a primeira volta em primeiro lugar.
emerson fittipaldi acompanharia aquela primeira volta de po, em frente é televisão, sem respirar, extasiado, em sua casa de key biscaine, na fl?rida. no dia seguinte, ligou para ayrton para dizer:
- você nunca mais faz uma dessa na vida. isso não existe
james hunt viu naquele momento o estabelecimento de uma nova refer?ncia de ayrton para o resto dos pilotos. e disse a ele pessoalmente, depois da corrida: ?você já fez o que tinha de fazer este ano?.
senna ultrapassa prost e assume a lideren?a em donington 93
um confuso jogo de xadrez das equipes com o tempo e a chuva se seguiu ?quela primeira volta. a williams, totalmente perdida, chegou a fazer prost parar sete vezes no boxe para troca de pneus. damon hill, que terminou em segundo apesar de ter sido vêtima da tumultuada estratégia da equipe, resumiu: ?eu estava louco para a prova acabar logo. não estava entendendo nada do que acontecia. e nem sei como consegui este segundo lugar?.
absoluto na pista, senna só encontrou uma certa dificuldade com outro piloto, que também dava um espet?culo quase inc?gnito naquela corrida. ao saltar de décimo-segundo no grid para a quarta posição, também na primeira volta, rubens barrichello, pilotando uma jordan-yamaha, não poderia imaginar situação melhor naquele aguaceiro, em sua terceira corrida de f?rmula 1. mas a confusão causada pela chuva e pela sucessão de pit-stops era tanta que, quando senna se aproximou para colocar uma volta de vantagem sobre ele, barrichello achou que era uma disputa de posição. seu relato, dez anos depois: ?eu estava sem noção do que estava acontecendo. largara sem nunca ter feito um pit-stop na vida, mas já tinha feito cinco paradas quando senna se aproximou. eu tinha visto o boxe da jordan me mostrar placas dizendo que eu estava em terceiro e, depois, em segundo lugar. na falta de novas placas e na dúvida, comecei a achar que estava liderando a corrida?.
a disputa não passou de duas curvas, mas foi suficiente para deixar senna irritado. barrichello, muito provavelmente, terminaria em segundo lugar, se não fosse tra?do a poucas voltas do final pelo motor yamaha. teve de abandonar e ainda engolir um grande sapo, o primeiro de sua carreira: a equipe divulgou que o problema era pane elétrica, mas, na verdade, garante geraldo rodrigues, manager de barrichello na época, era falta de combustável. os técnicos da yamaha haviam imposto a versão da pane para não expor seu motor beberrão.
depois da bandeirada, alegre como um menino, ayrton foi abordado por um jornalista que queria saber se ele tinha passado algum susto durante a corrida. a resposta foi muito semelhante é que ele dera em portugal, oito anos antes, depois da primeira vit?ria de sua vida, em outro dil?vio: ?susto? quase morri do coração um monte de vezes ?
em sua análise da corrida para autosport, nigel roebuck atribuiu parte do espet?culo de ayrton em donington park é suavidade do acelerador da mclaren, vital em pista molhada, em contraste com a forma abrupta com que o motor renault despejava potência nas rodas motrizes das williams de prost e hill. além de reclamar dessa falta de maciez, prost criticou a equipe williams. ao saber das reclamações de alain, ainda no paddock de donington, senna respondeu com um desafio, pelo jornal do brasil: ão prost, né? ele tem sempre uma desculpa. um bruto de um carrão desses e o cara fica chorando. vamos trocar de carro. pinta o carro dele de vermelho e branco e dá pra mim. não quero nem mudar de cor, mas muda só de carro pra gente conversar depois ?
? consagração de ayrton em donington park correspondeu um massacre de prost. o jornal le quotidien, franc?s como alain, reclamou: ?será uma injusti?a se senna não conquistar o quarto tátulo?.
um jári informal de dez campeões mundiais, stewart, fittipaldi, lauda, hunt, andretti, scheckter, jones, piquet, rosberg e mansel, reunido pela revista italiana autosprint, considerou prost ?culpado? pelas duas derrotas da equipe williams em donington e, semanas antes, interlagos. na suposta ?defesa? de alain, a revista usou argumentos de frank williams. na ?acusação?, de cesare fiorio, ex-diiretor da ferrari, conhecido desafeto de alain.
na irúnica edição da reportagem, alain foi considerado ?culpado? das seguintes ?acusações?: insolvóncia fraudulenta, por dissimular a própria incapacidade de correr na chuva; omissão, por não vencer duas corridas em que dispunha do melhor carro; reincid?ncia no delito anterior, por perder duas provas consecutivas; cal?nia, por dizer que sua williams não andava bem no molhado; difamação, por tentar culpar a equipe por não ter feito a troca de pneus na hora certa no brasil; abuso da credibilidade popular, por iludir os torcedores ao dizer que voltava a correr para ser campeão e omissão de dist?rbios mentais, por não alertar a williams sobre sua hidrofobia.
em meio é onda e condenação por suas queixas, prost mudou o tom dias depois da corrida, ao perguntarem sobre senna durante um programa ao vivo, no hor?rio nobre da f?rmula 1 da tevó francesa: ?ele é simplesmente imbatével. o que fez naquela primeira volta deixou todos os pilotos aturdidos. foi inacreditável?.
dez anos depois, alain reconhece que ?nada deu certo? em donington. mas faz uma ressalva: ?no final da corrida, parecia que eu era o único estápido na equipe williams. e todo mundo cometeu estupidez naquele dia, principalmente com os dados da previsão de tempo?.
donington park diminuiu ainda mais o número de cr?ticos de senna na média. e poucos tiveram coragem de continuar colocando-o apenas na confortável classificação de ?um dos melhores de todos os tempos?. a discussão passou a ser outra: onde colocá-lo, no apertado patamar em que já se encontravam fangio e clark? e outra pergunta começou a ser feita: qual o momento mais brilhante da carreira de senna? bernie ecclestone seria um dos muitos que não iam demorar um segundo para responder: ?donington?.
texto de: ernesto rodrigues
fonte: http://www.gptotal.com.br/2005/convidados/…to/20050714.asp
vódeo com momentos da corrida: http://www.youtube.com/watch?v=qzi4h1eod50
dentre as vêrias corridas que podem ser considerada como brilhante na carreira de senna essa é uma delas… outra é em m?naco, em 1984, onde ele só não venceu porque encerraram a corrida antes e também vale lembrar suzuka em 1989 quando após bater com prost ele voltou nas últimas posições e fazendo uma corrida fantástica acabou em primeiro...
obs.: muitos vão me xingar, mas reparem no que barrichello fez nesta mesma corrida em donington em 1993...