Corra comigo por ayrtom senna
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por ayrton senna
um grande prémio de formula 1 não é apenas aquilo que se vê na tv. tudo começa nos treinos livres da sexta feira, com os primeiros acertos do carro. na hora da tomada de tempos, vou andando e checando o limite de cada curva. se fiquei aquém do limite, na volta seguinte retardo a freada. se fui além, reduzo ou, o que é mais comum, tento manter aquele ritmo. as vezes, chego até a respirar menos numa boa volta. é que, quando você percebe que esta no limite, prende a respiração porque o carro pode escapar de um instante para o outro. entre cada sessão de treinos, passo a maior parte do tempo nos boxes ou no motorhome da equipe, geralmente estacionado atrás dos boxes. tenho que percorrer esse caminho 15 vezes, no mínimo, com pessoas que pedem aut?grafos, fotos e uma porção de outras coisas. além dos f?s, surgem os jornalistas, sempre em busca de novas noticias.
na sexta feira e no sóbado, acordo por volta das 8 horas. no domingo, por causa do excesso de trafego, preciso levantar mais cedo. tomo caf? da manhã na pista mesmo, preparado pelo joseph leberer. além de toda a nossa alimentação é balanceada em função do desgaste que sofremos - , joseph também cuida do nosso preparo f?sico: ele é o massagista da equipe (mclaren).
este ano até que estou me cansando menos nas corridas. durante o inverno europeu, segui um programa de treinamento elaborado pelo fisicultor nuno cobra, da usp. no sóbado é noite, evito qualquer compromisso para poder me deitar cedo. na quinta e sexta-feira, geralmente h? jantar com os patrocinadores, mas, por causa da corrida, evito ao máximo qualquer outro compromisso. o domingo é um dia desgastante. depois de meia hora de warm-up, passo um tempo conversando com os engenheiros da equipe, até a hora do briefing dos pilotos com os organizadores da prova. nunca se fala nada de novo nessas reuniões, mas somos obrigados a ?prestigia-losó com nossa presença, por força do regulamento.
volto para o motorhome para definir possíveis modificações que serão feitas no carro para o gp. após meia hora de papo com os engenheiros da honda e mclaren, mais ?compromissos sociais?: uma visita rápida aos stands dos patrocinadores. cumprida essa tarefa, como alguma coisa leve é frutas, por exemplo é e aí que me dou conta de que faltam poucos minutos para a formação do grid de largada. é esse o único tempo em que consigo me isolar para dar uma pensada na corrida e relaxar um pouco.
antes de formar no grid, procuro dar umas voltas a mais na pista para checar o carro e decidir alguma modificação de ultima hora. é um momento importante, pois, se a gente faz alguma alteração errada, acaba comprometendo o desempenho na prova. depois da volta de apresentação, deixo o carro em ponto morto até sentir que a luz vermelha está para ascender. não é bom ficar queimando a embreagem é toa. a largada é o momento mais perigoso de todos. os carros estão com os tanques cheios e muito próximos. basta alguém não largar para que um acidente aconte?a facilmente. depois, todo mundo chega junto a primeira curva e de novo existem riscos de novas batidas. é por isso que é importante sair na pole-position ou na primeira fila. só assim você tem mais chance de não se envolver num acidente além de pegar pista livre a sua frente.
durante a corrida, procuro manter a máxima concentração possível, para assimilar mais facilmente qualquer alteração é seja nos pneus, nos freios ou motor.
? medida que a corrida vai chegando ao fim, comeão a me preocupar com o consumo de combustável… e em terminar a prova. bandeira quadriculada agitada, vem o grande momento de descontração: o podio em seguida, quando o cansaão parece bater de uma vez só, e com força total, temos que enfrentar quase uma hora dentro de um estádio improvisado, cheio de gente e abafado pelo calor dos holofotes, dando entrevistas sempre mon?tonas e repetitivas. exausto, costumo voltar para o motorhome para a ultima conversa com os engenheiros. é quando finalmente discutimos sobre o comportamento do carro naquela corrida. somente depois desse encontro é que vou comer, pois a fome a essa altura faz roncar os estámago.
quando consigo terminar tudo isso, está na hora de voltar para a casa. se estou com meu avião, melhor, pois não preciso sair afobado para cumprir o hor?rio de um vão de linha. nos domingos de gps na europa, nunca chego em casa ou no hotel antes das dez da noite. a vit?ria na corrida é a única coisa que compensa todo esse desgaste...
quatro rodas, novembro de 1988