você aí, lendo estas maltraçadas: sempre sonhou em ser piloto? pois acorde para uma doce realidade: em breve, no mundo todo, vai faltar piloto. militar, comercial, de jatinho, helicóptero, agrícola ou teco-teco. tanto faz. vai faltar piloto de tudo quanto é jeito, cor, raça, credo ou misão.
o grande vilão desta história? ronald reagan.
explico. foi o caubói ronald reagan, presidente dos eua entre 1981 e 1989, quem acabou com a guerra fria, ao ampliar dramaticamente os gastos de defesa nos estados unidos, durante o início da década de 80, ao lançar um conjunto de medidas que ficaraiam conhecidas como reaganomics . o grande adversário acusou o baque. a economia soviética simplesmente não conseguiu acompanhar o passo do tio sam. dezenas de projetos de caças, submarinos, ônibus espaciais e até mesmo canhões e tanques foram abandonados, deixados à mingua por falta de recursos ou programas simplesmente cancelados. ideologicamente, ainda que a antiga urss não se considerasse derrotada, na prática, as leis de mercado decretaram uma lenta e inexorável derrocada ao regime comunista de exportação. foi sem disparar um único missil balístico intercontinental que reagan desferiu um golpe mortal nos bolsos bolcheviques e colocou um ponto final à guerra fria.
com o fim da guerra fria, dezenas de países cortaram dramaticamente seus gastos militares. exércitos, marinhas e forças aéreas nos quatro cantos do planeta reduziram seus efetivos, equipamentos, horas voadas. novos tipos foram cancelados; novas tecnologias postergadas ou esquecidas. e, para a aviação mundial como um todo, as grandes formadoras de pilotos, as forças aéreas, deixaram de treinar, convocar e preparar milhões de cadetes em todo o mundo.
não precisamos ir longe para constatar isso. o número de horas voadas, de pilotos formados nas academias da força aérea brasileira ou nos aeroclubes privados por este brasil afora vêm caindo gradativamente, ano após ano, por toda a duração desta última década. como você sabe, a gloriosa fab sempre foi o ninho de onde partiram muitas das águias que ocupavam - e ainda em grande número ocupam - as cabines de comando das aeronaves comerciais brasileiras. com uma fab esvaziada, privada de recursos, era natural que se desse uma dramática redução no contingente de cadetes do ar.
os números não deixam margens a dúvidas. a indústria de aviação comercial vai demandar 466.650 pilotos nos próximos 20 anos, para acomodar a forte demanda por aeronaves novas e aquelas que entrarão em operção na substituição de tipos atualmente empregados. os números foram calculados pela por avaliação da boeing. somente as linhas aéreas precisarão de cerca de 23.300 novos pilotos por ano no período que vai de 2010 a 2029. somente a américa latina precisará de 37.000 pilotos, mas a maior demanda estará na região da ásia / pacífico, com a necessidade de 180.600 pilotos. a américa do norte vai precisar de 97.000 pilotos. a europa necessitará de 95.000 profissionais. a áfrica demandará 13.200 pilotos. o oriente médio precisará de 32.700 aviadores. a comunidade dos estados independentes precisará de 11.000 pilotos.
a américa latina precisará de cerca de 1.850 novos pilotos por ano, grande parte para o brasil, cifra somente computada para dar conta da demanda das linhas aéreas regulares. o número não cosidera taxia aéreos, operações off-shore e demais segmentos das asas rotativas, jatos particulares. comos e vê, apertem os cintos: os pilotos vão sumir.
se para os empregadores esta notícia é preocupante, para aqueles que acalentam a ideia de construir uma carreira nas nuvens não poderia haver nada melhor. essa escassez certamente vai levar à uma procura desenfreada por talentos, com a inevitável pressão por aumento de salários. haverá maiores oportunidades para aqueles que querem ocupar as cadeiras da direita nas cabines de comando mas que trazem nas suas cvs um número modesto de horas voadas. isto também deve significar promoções a comando mais rápidas para os primeiros-oficiais.
mas pode ter certeza que a indústria vai criar mecanismos para suprir estas carências. várias medidas já estão em estudo. a primeira, e politicamente mais espinhosa, é permitir que estrangeiros voem aeronaves brasileiras. nada contra, mas… será que as operadoras brasileiras conseguirão atrair talentos de fora, tendo que competir contra as propostas generosas de empresas como a emirates, qatar, singapore, para citar as mais prestigiosas, sem falar nas dezenas de companhias aéreas chinesas, coreanas e indianas que hoje já vêm para estas bandas recrutar aeronautasó sei não.
outra medida em estudo é aumentar a idade de aposentadoria compulsória dos pilotos, atualmente barrados aos 60 anos. não que somente esta medida resolva a parada, mas vai tirar parte da pressão e, de quebra, permitir que a nata dos pilotos nacionais continuem por pelo menos mais cinco anos no comando de nossas aeronaves.
finalmente, empresas aéreas abertamente se movimentam para criar suas escolinhas, ou ao menos se associarem a universidades do ar para ajudar na formação de novos pilotos. mecanismos de financiamento dos cursos e até das horas voadas estão em estudo, de maneira que não chega a ser inimaginável o dia em que os futuros pilotos terão sua formação subsidiada por seus futuros empregadores.
resumo da ópera: se você sonha em ser piloto, a hora é agora. invista - ou pelo menos não desista - do sonho. logo, logo, vão te chamar para uma entrevista.
g. beting
13/11/2010
fonte
pra quem tem interesse é uma boa.