achi impressionante essa espécie de crítica que um dos hosts (apresentadores) do programa inglês top gear fez para a vespa gtv navy 125.
…bastante interessante, principalmente porque o dono do site anda legendando alguns videos do programa tbm
recentemente vários jornais publicaram uma foto minha em cima de uma motoneta. todos eles salientaram que, por eu odiar motos e estar andando em uma, eu me revelei um hipócrita e deveria cometer suidício imediatamente.
hmmm. se eu tivesse sido fotografado em cima da telefonista local, aí sim, eu estaria envergonhado por ter feito algum tipo de apologia. mas era uma moto. e eu não acho nada peculiar que um jornalista automotivo ande nesse tipo de coisa. não quando há um problema com a economia e muitas pessoas estão cogitando trocar quatro rodas por duas.
infelizmente você não pode fazer essa troca impulsivamente porque estamos na grã-bretanha e existem algumas regras. o que significa que antes de subir na moto, você deve ir a um estacionamento, vestir um colete de segurança e passar a manhã guiando ao redor de uns cones enquanto um cara chamado dave – todos os instrutores de moto se chamam dave – explica o que faz cada manete. mais tarde, você será levado à rua, onde irá rodar por muitas horas em um estado de pânico e sofrimento. aí você irá pra casa jurando nunca mais andar de moto.
isso se chama treinamento básico obrigatório e permite que você conduza qualquer moto com motor de até 125cm³. se quiser andar com algo maior, deverá fazer o teste exigido. mas sendo humano, você não vai querer uma moto maior por que vai morrer usando roupas da linha “dungeon” da ann summers*
certo, começando pelo começo: a moto não é como um carro. ela não fica em pé por si só. então quando você não estiver montado nela, precisará se apoiar em uma parede ou um poste. me disseram que algumas motos vêm com pezinhos que podem ser baixados para mantê-las em pé. mas para isso você precisa erguer a moto sobre esse pezinho e isso seria como tentar levantar um americano.
próximo: os controles. ao contrário do carro, parece que não existe padronização no mundo do motociclismo. algumas têm o câmbio no guidão, outras ao lado do motor, o que significa que você precisa fazer a troca com o pé – que coisa estúpida – e algumas são automáticas.
aí chegamos aos freios. como motos são projetadas por motociclistas – e motociclistas não são muito brilhantes – eles não pensaram numa maneira de acionar o freio dianteiro e o traseiro ao mesmo tempo. então para brecar a roda da frente, você puxa um manete no guidão e para parar aquela lá atrás, você pisa em um pedal.
um aviso: se usar somente o freio da frente, você vai voar sobre o guidão e morrer. se tentar usar o de trás, irá usar o pé errado e engrenar a terceira marcha em vez de parar. aí você vai bater no obstáculo que estava evitando e morrer.
e então há o guidão. ele tem um formato que só pode ser descrito como barra de manuseio, mas se você virar ele – mesmo de modo sutil – enquanto estiver andando, vai cair e morrer. o que você precisa fazer é se aproximar da curva, fixar a atenção na direção que pretende seguir e aí vai cair da moto e morrer.
ao menos os controles mais simples estão concentrados. bem.. você tem uma buzina, farol e piscas operados, todos, por vários botões e interruptores no guidão, mas se você olhar para descobrir qual faz o que, um caminhão vai te acertar e você vai morrer. ah, e por algum motivo extraordinário os piscas não desligam automaticamente, o que significa que você vai dirigir com eles permanentemente ligados, o que levará os outros motoristas a pensar que você vai virar à direita. aí será ultrapassado assim que virar à esquerda e você vai morrer.
o que estou tentando dizer aqui é que, sim, motos e carros são ambos meios de transporte, mas eles não têm nada em comum. pensar que você pode andar de moto porque você dirige um carro é como imaginar que pode mergulhar saltando de um penhasco de 30 metros só porque consegue jogar pingue-pongue.
entretanto, muita gente está fazendo esta troca porque imagina que ter uma moto é barato. não é. claro, a vespa de 125cm³ que eu testei pode ser comprada por £3.499, mas aí você vai precisar de um capacete (£300), de uma jaqueta (£500), uma calça igual à do freddie mercury (£100), botas (£130), um par de luvas de kevlar (£90), um caixão (£1.000), uma lápide (£750), uma cremação (£380) e das flores na igreja (£200).
em outras palavras: sua moto de 125cm³, que não tem bagageiro, nem vidros elétricos, nem rádio e nem um maldito aquecedor, vai acabar custando mais que um vw golf. dito isso, uma moto gasta muito menos para rodar que um carro. na verdade, precisa somente de meio litro de gasolina para ir da sua casa até a cena do seu primeiro acidente fatal. o que significa que o custo total para rodar com a sua moto será de somente 50 libras.
assim que você decidir que quer mesmo uma moto, o próximo problema é escolher qual comprar. e a simples resposta é que, não importa a sua escolha, você será motivo de piadas. motociclismo sempre foi um hobby, não uma alternativa adequada de transporte, e como acontece em todos os hobbies, os adeptos são extremamente conhecedores do assunto. me espanta como os motociclistas, em suas curtas vidas, conseguem aprender tanto sobre motociclismo quanto aqueles caras que vêem os trens parando nas estações.
de qualquer forma, como eles são tão conhecedores, eles sabem precisamente por que a moto que você escolheu é ruim e por que a deles é incrível. quase sempre, elas têm algo para fazer com “o joelho aberto”, o que é uma pratica adotada por motociclistas momentos antes da batida que encerra suas vidas.
você, é claro, por ser normal não estará interessado em “abrir o joelho”. somente em ir para o trabalho e rodar o máximo possível do caminho de volta pra casa antes de morrer. por isso eu decidi testar a vespa, que é muito rejeitada por motociclistas fanáticos por que eles a consideram uma motoneta. isso é racismo. discriminar uma máquina só porque ela não tem uma barra transversal, só porque você pode simplesmente andar até o banco e sentar. gostei da idéia de uma moto sem barra transversal. muito útil se você for escocês e trabalhar todos os dias de saia**.
também gostei da vespa porque a maioria das motos é japonesa. isso significa que elas são extremamente confiáveis, então você não consegue evitar um acidente fatal simplesmente freando. isso é completamente possível na vespa porque ela é feita na itália.
imagine só, existem alguns inconvenientes que você deveria considerar. a vespa não é movida por uma corrente. em vez disso, o motor é montado ao lado da roda traseira por razões que se perderam nas brumas do tempo e que não são importantes também. entretanto significa que a moto é mais larga e tem uma carroceria, como um carro, para proteger as peças móveis e quentes. isso a torna extremamente pesada. tentar levantá-la, se cair, é impossível.
e tem mais: por ter o pesado motor na direita, a moto gosta de virar à direita muito mais que para a esquerda. isso quer dizer que em todas as curvas à esquerda você vai morrer.
a menos que você se equilibre pela velocidade dela. a um certo ponto eu atingi 64km/h e parecia que meu peito havia sido atingido por um furacão congelante. foi tudo o que consegui fazer para agarrar o guidão com meus dedos congelados.
por isso odiei minha experiência com motociclismo e não recomendaria a ninguém.
*marca inglesa de roupas eróticas
** jeremy clarkson é um sacana. não traduzi kilt como saia. foi ele mesmo que chamou o tradicional saiote escocês de saia (skirt).